O romancista e o maestro
J. Paiva
Foto de Alfredo Salgado, de 1888, de um pique-nique realizado na
chácara de Galtter da Silva, no aprazível Benfica..(Abaixo, croquis
com a numeração correspondente à cada componente da foto.
(Clique na foto, para ampliar) .(Fonte: Revista do Instituto do Ceará).
Acima, o croquis, feito por José LIBERAL DE CASTRO, ao publicar,
na Revista do Ceará(1995),a matéria "Alberto Nepomuceno e o Ceará,"
sobre a estada do músico cearense em Fortaleza, após sua ida para o
Rio de Janeiro, quando aconteceu o pique-nique retratado
(Fonte: Revista do Instituto do Ceará- 1995).
Antônio CAIO da Silva PRADO(1853-1889), Presidente da
Província do Ceará (1888-1889). Nasceu em São Paulo e
faleceu em Fortaleza. (Pintura de Pedro Américo.; Fonte: Wikipédia).
Nesta foto, da Sociedade Libertadora Cearense, estão alguns dos
que compõem a foto do pic-nic...como Antônio Bezerra, o 6º, em pé,
da esquerda para a direita. O último, em pé, é ALFREDO SALGADO,
que fotografou o grupo do famoso pique-nique. Sentados,1º- Oliveira Paiva,
2º- João Lopes e 4º- Antônio Martins . (Foto: Arquivo Nirez)
Estação ferroviária da antiga CANGATY, hoje CAIO PRADO.
Foto do dia da sua inauguração: 1890. (autor desconhecido).
(Fonte: Estações Ferroviárias do Brasil).
A mesma estação ferroviária, do hoje município CAIO PRADO,
distante 120 km de Fortaleza .(Site: Estações Ferroviárias do Brasil.)
...cotinuação...
A fotografia do pique-nique realizado em Fortaleza, no ano de 1888, na chácara de uns dos mais brilhantes comerciantes cearenses de todos os tempos, Alfredo Salgado, com a restrita representação de pessoas de valor social, mental e artístico de então, que foi publicada no Boletim nº 3 de 21 de fevereiro de 1941, do Instituto do Ceará, 1º Centenário de nascimento do notável historiador Antônio Bezerra de Menezes, apanhou para a História os seguintes vultos: Presidente Caio Prado e os literatos Antônio Bezerra, João Lopes,Antônio Martins, Oliveira Paiva e o músico Alberto Nepomuceno; os homens do comércio Gualter Silva, Confúcio Pamplona, Jaques Well, João Salgado, várias crianças, senhoras e senhorinhas. Alfredo Salgado, o fotógrafo, certamente por isso mesmo, não aparece no quadro.
Vale à pena destacar ali a figura de Antônio Caio da Silva Prado, homem rico, generoso e empreendedor, diletante, paulista de fina raça e fibra de estadista que o jogo de xadrez da política imperial mandara para o Ceará, e que aqui governou, providencialmente, um ano de seca - chamada de três oito - também aqui passando os últimos meses de sua existência, entre 21 de abril de 1888 a 25 de maio de 1889, morrendo em meio a uma doença misteriosa mas deixando um nome, uma fama e uma popularidade quase lenda, que muitos dos nossos presidentes conterrâneos não lograram conquistar.
Naquele cenário, a vida burguesa da capital do Ceará estava como que espiritualizada pelas notas individuais de Literatura e Arte, que tiveram assim sua mais duradora perpetuação pessoal. No fim do Império, quando o passado de lutas homéricas pelos mais fúlgidos ideais do século que para os latinos se iniciara no 89 francês, entre os quais a campanha, ainda quente de saudades que culminara com a libertação dos escravos, trouxera para a terra de Iracema o justo cognome de Terra da Luz, e José de Alencar, ainda em vida e muito mais após a sua morte, fora já considerado um astro de excepcional grandeza no céu da Literatura nacional, então quando a 13 de de maio a princesa Imperial firmara o decreto da Redenção final e total da raça negra aliada ao português e ao indígena, não deixara essa visão íntima da sociedade de 1888 de parecer, ao mesmo tempo que uma cena quase familiar preparada e acariciada pelo alegre espírito do Mecenas Caio Prado, um protesto tácito contra a hibernação senil do triste fim do Segundo Império, de cuja recessão próxima forças ocultas tentavam afastar a Princesa Isabel. Quem sabe se os Afonso Celso, os Alfredo Taunay, os Eduardo e Caio Prado, os Paranhos Filho e tantos outros, à frente dos Gabinetes, num terceiro Império, não teriam forjado uma democracia de perfeição continuada, semelhante ao do Império Britânico, sob o cetro da Rainha Vitória, de quem a Filha de Pedro II seria uma imitadora com formação católica e latina? Afinal aquela quase tertúlia, de tão fina e variada composição, numa gloriosa Província que era esquecida da Côrte mas sempre honrara o Brasil, não parecia estar precedendo de tão pouco tempo ao advento de uma República cortada da profecia de Daniel, como se o velho solitário soberano admirado por Vitor Hugo, fora outro ímpio Baltazar, profanador do tempo da Liberdade, servida pelos dois partidos nacionais.
Por J. Paiva
...continua...
Naquele cenário, a vida burguesa da capital do Ceará estava como que espiritualizada pelas notas individuais de Literatura e Arte, que tiveram assim sua mais duradora perpetuação pessoal. No fim do Império, quando o passado de lutas homéricas pelos mais fúlgidos ideais do século que para os latinos se iniciara no 89 francês, entre os quais a campanha, ainda quente de saudades que culminara com a libertação dos escravos, trouxera para a terra de Iracema o justo cognome de Terra da Luz, e José de Alencar, ainda em vida e muito mais após a sua morte, fora já considerado um astro de excepcional grandeza no céu da Literatura nacional, então quando a 13 de de maio a princesa Imperial firmara o decreto da Redenção final e total da raça negra aliada ao português e ao indígena, não deixara essa visão íntima da sociedade de 1888 de parecer, ao mesmo tempo que uma cena quase familiar preparada e acariciada pelo alegre espírito do Mecenas Caio Prado, um protesto tácito contra a hibernação senil do triste fim do Segundo Império, de cuja recessão próxima forças ocultas tentavam afastar a Princesa Isabel. Quem sabe se os Afonso Celso, os Alfredo Taunay, os Eduardo e Caio Prado, os Paranhos Filho e tantos outros, à frente dos Gabinetes, num terceiro Império, não teriam forjado uma democracia de perfeição continuada, semelhante ao do Império Britânico, sob o cetro da Rainha Vitória, de quem a Filha de Pedro II seria uma imitadora com formação católica e latina? Afinal aquela quase tertúlia, de tão fina e variada composição, numa gloriosa Província que era esquecida da Côrte mas sempre honrara o Brasil, não parecia estar precedendo de tão pouco tempo ao advento de uma República cortada da profecia de Daniel, como se o velho solitário soberano admirado por Vitor Hugo, fora outro ímpio Baltazar, profanador do tempo da Liberdade, servida pelos dois partidos nacionais.
Por J. Paiva
...continua...
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Notas:
1- Mantivemos, desde o Capítulo I , a forma ortográfica com que o texto foi concebido e publicado em 1952, pelo jornalista J. Paiva, sobrinho do biografado e meu pai;
2- O "maestro" a que se refere o sub-título, " O maestro e o romancista", é o músico Alberto Nepomuceno, que se tornou maestro e que, morando no Rio de Janeiro, visitou Fortaleza
em 1888, em excursão artística, a fim de angariar recursos para
estudar na Europa, em companhia de seu amigo Frederico Nascimento. Ambos estão na "famosa" foto do pique-nique;
2- O "maestro" a que se refere o sub-título, " O maestro e o romancista", é o músico Alberto Nepomuceno, que se tornou maestro e que, morando no Rio de Janeiro, visitou Fortaleza
em 1888, em excursão artística, a fim de angariar recursos para
estudar na Europa, em companhia de seu amigo Frederico Nascimento. Ambos estão na "famosa" foto do pique-nique;
2- A partir deste penúltimo capítulo, começa a brotar, em mim, a ideia do que trarei, como matéria, após o último capítulo. Penso em trazer um pouco da "Vida e Obra" de outo artista cearense que, como Manoel de Oliveira Paiva, nasceu na Fortaleza do século XIX. Deixo para revelar, o nome, no final do Capítulo XXV, ao colocar o ponto final da biografia aqui transcrita.
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Volto, em uma semana................Um abraço!