José Joaquim de Oliveira Paiva, meu pai, nasceu em
Fortaleza, capital do Ceará, a 7 de novembro de
1895 e faleceu a 19 de junho de 1977. De profissão
foi Guarda-Livros (hoje Contabilista). Na Fênix
Caixeiral, instituição em que se graduou, tornou-se
professor de língua francesa e bibliotecário. Na Fênix,
filiou-se ao grupo literáro Arcádia Fenixta, que alí
existiu na década de 1920.Foi jornalista, escrevendo
no jornal "Correio do Ceará", como Pio Valério. Foi
livreiro, proprietário da Livraria Clássica. Escreveu,
por muitos anos, no jornal católico "O Nordeste",
nos anos 1950 e 1960 assinando, então, J.J. Paiva. Por
vários anos publicou matérias na revista da Sociedade
São Vicente de Paulo.Líder católico, pertenceu às
Congregações Mariana, Franciscana e Vicentina,
permanecendo nelas... até se finar...
Hoje, revendo as letras das canções, resolvi iniciar uma série semelhante àquela, trazendo aqui, as canções (ou modinhas)
que meu pai mais gostava de cantar. Meu pai, como minha mãe, sempre embalaram com belas cantigas, durante toda a infância, os seus seis filhos, também depois da infância... muito além....até se ir, em 1977....Agora,vale recordar!
De todas as canções, lembro-me das letras e melodias. Como não possuo gravações, digitarei, as letras das canções. Nesta primeira, a "Nau Catarineta" (versão brasileira) e a "Nau Catrineta" ( em versão portuguesa) consegui vídeos, no YouTube. Com o intuito de complementar melhor, a postagem, publico os respectivos vídeos, após a letra da canção e as notas que se seguem...
NAU CATARINETA
Faz vinte e um anos e um dia
Que andamos n'ondas do mar
Botando sola de molho
Para de noite jantar
A sola era tão dura
Que a não podemos tragar
Foi-se vendo pela sorte
Quem se havia de matar
Sobe sobe meu gajeiro
Meu gajeirinho real
Vê se vês terra de Espanha
Areias de Portugal
Não vejo terras de Espanha
Areias de Portugal
Vejo sete espadas duas
Todas para te marar
Arriba arriba gajeiro
Aquele tope real
Olha pra estrela do norte
Para poder nos guiar
Alvíssaras meu capitão
Alvíssaras meu general
Avisto terras de Espanha
Areias de Portugal
Também avistei três moças
Debaixo de um laranjal
Duas cozendo cetim
Outra calçando dedal
Todas três são minhas filhas
Ah! quem me dera abraçar
A mais bonita de todas
É pra contigo casar
Eu não quero sua filha
Que lhe custou a criar
Quero a Nau Catarineta
Para nela Navegar
Tenho meu cavalo branco
Como não há outro igual
Eu dar-te-ei de presente
Para nele passear
Eu não quero seu cavalo
Que lhe custou a ensinar
Quero a Nau Catarineta
Para nela navegar
Tenho meu palácio nobre
Como não há outro assim
Com suas telhas de prata
Suas portas de marfim
Eu não quero seu palácio
Tão caro de edificar
Quero a Nau Catarineta
Para nela navegar
A Nau Catarineta amigo
É d'El-Rei de Portugal
Eu não serei mais ninguém
Se El-Rei te há de dar
Desce desce meu gajeiro
Meu gajeirinho real
Já viste terras de Espanha
Areias de Portugal
NOTAS:
1- Essa letra, era a que papai cantava. Lembro-me que, ao final do 3º verso, de cada quadra, acrescentava-se "oh! Tolina", repetindo-se, então, os dois últimos versos. Este refrão, facilitava o entoar da melodia de a Nau Catarineta, além de ficar mais "bonito" e mais "animado"'...o nosso cantar...Formávamos um "harmonioso coral", (modéstia à parte), o pai com as três filhas . Os três meninos, mais velhos, raramente estavam presentes, à sessão de canto...
2- Nas pesquisas que fiz, na internet, encontrei várias versões, tanto de letras quanto de melodias(nos vídeos), da Nau Catarineta. Considerei importante, trazer a nota que exponho abaixo:
Nota de Luis da Câmara Cascudo, para a Nau Catarineta:
Xácara portuguesa narrando as peripécias de uma longa travessia marítima, as calmarias que esgotaram os mantimentos, a sorte para sacrificar um dos tripulantes, a presença da tentação diabólica e a intervenção divina, levando a nau a bom porto. Publicou-a Almeida Garrett no seu Romanceiro e Cancioneiro Geral, Lisboa, 1843. Impossivel indicar o número de variantes em Portugal e no Brasil. No Romanceiro de Garrett é a XXVI, A Nau Catarineta. Muitos dos elementos sobrenaturais da xácara ocorrem nos romances El Marinero e Santa Catarina, divulgadíssimos na península ibérica e América espanhola, motivos da sedução demoníaca e da bondade divina. Houve realmente uma nau Catarineta que sofreu dolorosa jornada para Lisboa. Em 1666, os capuchinhos Michael Angelo de Gattina e Denis Carli de Piacenza, indo do Brasil para Portugal, encontraram calmarias no Equador e recordaram a tragédia do infellice vascello detto Catarineta (Mário de Andrade, A Nau Catarineta,, Revista do Arquivo Municipal. LXXIII, São Paulo, 1941; Renato Almeida, História da música brasileira, 211-216,ed. Briguiet, Rio de Janeiro,1942). É o documento mais antigo e revelador da historicidade do acontecimento. Transmitida oralmente, a xácara tem sido cantada initerruptamente por todo o Brasil, isolada,como em Portugal, ou reunida à jornadas de um auto tradicional, fandango ou marujada, taqualmente sucede com outras outras xácaras portuguesas, O Capitão da armada, por exemplo, que também está no fandango;(Jaime Cortesão, O que o povo canta em Portugal, 142.Livros de Portugal, Rio de Janeiro, 1942).
Versão portuguesa, para a Nau Catrineta...
Versão brasileira, para a Nau Catarineta
Assim, vimos a letra de a Nau Catarineta ,a que meu pai cantava, a nota de Câmara Cascudo e duas versões, em vídeo, uma portuguesa e outra brasileira, dentre as inúmeras versões existentes desta bela e sempre presente MARUJADA...
******
Já vou..................................................mas eu volto, um abraço!