JUNTO AO SÍTIO DA TIA LUIZINHA,
HAVIA UMA LAGOA...
Esta, é a Lagoa do Tauape, onde a menina Luma e suas irmãs
brincavam, quando iam visitar a querida tia Luizinha. Do lado direito,
da foto,acima dessa ribanceira, ficava o enorme sítio, tendo bem à
frente, um belíssimo casarão...(Foto: Arquivo Nirez).
A LAGOA DO TAUAPE
frente, um belíssimo casarão...(Foto: Arquivo Nirez).
A LAGOA DO TAUAPE
(CONTO MEMORIALISTA, DE LÚCIA PAIVA)
De primeiro, lá para as bandas da Cachorra Magra, havia uma lagoa: a Lagoa do Tauape. Uma menina, chamada Luma, saía com seu pai e suas duas irmãs, todos os sábados, cedinho da manhã, para visitar a velha e querida tia Luizinha, que morava, com seu filho Mário, em um enorme sítio, bem juntinho da lagoa. Era como se a lagoa, fosse o jardim do casarão do sítio.
As três meninas, deixavam o pai a conversar com a tia e corriam, em direção à beira da lagoa para, só depois, mergulharem na doce água morna.. Alí ficavam, uma hora ou pouco mais, retornado, em seguida, ao aprazível sítio. Era quando o primo Mário lhes oferecia variados tipos mangas: manga rosa, tamaracá, jasmim, coité...e, até, a miúda manguita, conhecida também por carlotinha...tão pequena e tão doce, quanto a infância...
Ao fim da visita semanal, à idosa tia, já por volta das 10 horas da manhã, pai e filhas retornavam à sua casa, distante dalí uns dois quilômetros... mais ou menos...
Nesta foto panorâmica do bairro Benfica, em Fortaleza, vê-se o Estádio
Presidente Vargas,conhecido por PV, cuja rua que vemos ao lado esquerdo
é a Rua Marechal Deodoro,antiga Rua da Cachorra Magra. O sítio, ficava
depois do PV, onde se avistam árvores, no alto dessa foto. Mais à frente,
a avenida transversal é a 13 de Maio, onde está a edificação da Escola
depois do PV, onde se avistam árvores, no alto dessa foto. Mais à frente,
a avenida transversal é a 13 de Maio, onde está a edificação da Escola
Técnica Federal de Ceará (SEFETE) ... (Foto: Arquivo Nirez).
Seguiam, então, pela Rua Marechal Deodoro, antiga Cachora Magra, atravessavam a Av. 13 de Maio e, mais adiante, no sentido centro, dobravam na Travesa Iguatu, ainda no bairro Benfica, quase em frente à belíssima e centenária Chácara Flora.(ABRINDO UM PARÊNTESE...
A Chácara Flora (foto atual) era centenária e foi demolida
no dia 30-12-11, causando grande revolta nos fortalezenses
que amam a sua cidade e querem preservar seu patrimônio
arquitetônico. Esta edificação situava-se na Rua Marechal
Deodoro, antiga Rua da Cachorra Magra, próximo à Avenida
13 de maio, quase chegando à antiga Travessa Iguatu, hoje
Rua Padre Miguelino(Foto: blog Monumento, Arquitetura e Arte)
A chácara do Sítio da tia Luizinha, como essa e tantas
outras do aprazível bairro Benfica, também foi demolida,
com essa mesma"crueldade"...aplicada à Chácara Flora...
(Como "doem", na alma, esses "crimes" ,contra o patrimônio
histórico e arquitetônico da minha, da nossa, Fortaleza Amada...)
...FECHANDO O PARÊNTESE).
Luma, as suas duas irmãs e seu pai seguiam, o caminho de casa, pelas ruas Senador Pompeu, Barão do Rio Branco, Major Facundo, Floriano Peixoto e Assunção. A casa deles ficava (ainda fica) à Rua Saldanha Marinho, quase na esquina com a Rua Solon Pinheiro, já no Bairro de Fátima.A chácara do Sítio da tia Luizinha, como essa e tantas
outras do aprazível bairro Benfica, também foi demolida,
com essa mesma"crueldade"...aplicada à Chácara Flora...
(Como "doem", na alma, esses "crimes" ,contra o patrimônio
histórico e arquitetônico da minha, da nossa, Fortaleza Amada...)
...FECHANDO O PARÊNTESE).
No caminho de volta à casa, era muito comum encontrarem figuras "pitorescas" que, há muito tempo, faziam parte do cenário da cidade. Eram os vendedores ambulantes, com seus "ingênuos" pregões....
Alí estava, a Tereza, com sua enorme bacia de alumínio, carregada de "puxa-puxa" a dizer... quase cantando: "Olha o puxa-puxa da Tereza, quem quiser que se habilite!".
Alí estava, a Tereza, com sua enorme bacia de alumínio, carregada de "puxa-puxa" a dizer... quase cantando: "Olha o puxa-puxa da Tereza, quem quiser que se habilite!".
Com a bacia de alumínio, apoiada na murada de alguma casa, num movimento de vai-e-vem, com ambas as mãos, a Tereza ia dizendo o seu famoso pregão. Quando chegava um "freguês", interessado no puxa-puxa, ela pegava uma tesoura e cortava um pedaço, do tamanho costumeiro...delícia pura!!!
Alguns quarteirões depois, já se ouvia o tilintar de um triângulo, tocado pelo vendedor de "chegadinha":
- "Pega, pega as chegadinhas, um punhado de conchinhas"... parecia dizer o som, da batida do triângulo...
O menino tocador, trazia um enorme cone de zinco, à tira-colo, sobre um dos ombros e ficava, assim, com as duas mãos livres para bater o pedacinho de ferro no anunciador triângulo musical...
Para quem não conhece a "Chegadinha", ela é um tipo de biscoito muito fino, na forma de uma concha, do tamanho de uma mão. Feita com trigo, manteiga, açucar... que "cola" no céu-da-boca, como uma "hóstia consagrada". É diferente do puxa-puxa, que é feito de melado de cana e "prega" nos dentes, como um "quebra-queixo". No entanto, ambos são doces e bonitos, como a infância: o puxa-puxa é claro, como o marfim, a chegadinha, é morena, como a rapadura...
Mais adiante, no caminho para casa, o pai e as três meninas, se deparavam com o "homenzinho" da cruzeta, que dizia, em sua cantilena: "Cruzeeeta, na hora...cruzeeeta, na hora... cruzeeeta, na hora...", sem parar...! Para quem não sabe o que é uma cruzeta, eu digo: é uma pequena cruz de madeira, com um gancho no alto, que se usa para pendurar roupa. Hoje, a cruzeta é chamada de cabide, pelo cearense. Com o passar do tempo, muitas palavras e expressões regionalistas, se "perderam"...
Os quatro andarilhos, em "marcha lenta", chegavam em casa por volta das onze horas, com o sol quase a pino, a bronzear a pele, tornando-a bem trigueira...
À noite, após o jantar, sempre ao toque da "ave maria", Luma e as irmãs iam juntar-se às amigas do quarteirão onde moravam, para as brincadeiras de roda, na calçada. Enquanto cantavam a ciranda, o atirei o pau no gato, a senhora dona cândida e tantas outras cantigas de roda, passava, diariamente, o vendedor de "doce gelado" que, também, tinha o seu pregão:- "Doce gelado, sapoti, maracujá, namorei uma morena na Meton de Alencar, eu queria casar com ela, e ela não queria não, porque eu era um sorveteiro e ela chofer de fogão...doooce gelado..."...
Essas lembranças, são tão fortes, para Luma, que hoje, professora da rede pública de ensino, resolveu participar de um concurso de poesia, inscrevendo um poema seu, onde relata essas "passagens" de sua infância...compartilhando esses momentos tão gostosos, como o puxa-puxa da Tereza, a chegadinha, o doce gelado, as mangas da tia Luizinha, o banho na Lagoa do Tauape...enfim...
- "Pega, pega as chegadinhas, um punhado de conchinhas"... parecia dizer o som, da batida do triângulo...
O menino tocador, trazia um enorme cone de zinco, à tira-colo, sobre um dos ombros e ficava, assim, com as duas mãos livres para bater o pedacinho de ferro no anunciador triângulo musical...
Para quem não conhece a "Chegadinha", ela é um tipo de biscoito muito fino, na forma de uma concha, do tamanho de uma mão. Feita com trigo, manteiga, açucar... que "cola" no céu-da-boca, como uma "hóstia consagrada". É diferente do puxa-puxa, que é feito de melado de cana e "prega" nos dentes, como um "quebra-queixo". No entanto, ambos são doces e bonitos, como a infância: o puxa-puxa é claro, como o marfim, a chegadinha, é morena, como a rapadura...
Mais adiante, no caminho para casa, o pai e as três meninas, se deparavam com o "homenzinho" da cruzeta, que dizia, em sua cantilena: "Cruzeeeta, na hora...cruzeeeta, na hora... cruzeeeta, na hora...", sem parar...! Para quem não sabe o que é uma cruzeta, eu digo: é uma pequena cruz de madeira, com um gancho no alto, que se usa para pendurar roupa. Hoje, a cruzeta é chamada de cabide, pelo cearense. Com o passar do tempo, muitas palavras e expressões regionalistas, se "perderam"...
Os quatro andarilhos, em "marcha lenta", chegavam em casa por volta das onze horas, com o sol quase a pino, a bronzear a pele, tornando-a bem trigueira...
À noite, após o jantar, sempre ao toque da "ave maria", Luma e as irmãs iam juntar-se às amigas do quarteirão onde moravam, para as brincadeiras de roda, na calçada. Enquanto cantavam a ciranda, o atirei o pau no gato, a senhora dona cândida e tantas outras cantigas de roda, passava, diariamente, o vendedor de "doce gelado" que, também, tinha o seu pregão:- "Doce gelado, sapoti, maracujá, namorei uma morena na Meton de Alencar, eu queria casar com ela, e ela não queria não, porque eu era um sorveteiro e ela chofer de fogão...doooce gelado..."...
Essas lembranças, são tão fortes, para Luma, que hoje, professora da rede pública de ensino, resolveu participar de um concurso de poesia, inscrevendo um poema seu, onde relata essas "passagens" de sua infância...compartilhando esses momentos tão gostosos, como o puxa-puxa da Tereza, a chegadinha, o doce gelado, as mangas da tia Luizinha, o banho na Lagoa do Tauape...enfim...
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NOTAS:
1- A expressão "De primeiro", usado no iníco do texto, ao qual chamei de Conto Memorialista, é tipicamente "cearense". A "inspiração"veio do romance "Dona Guidinha do Poço", de Manuel de Oliveira Paiva(1861-1892) cujo início é: - De primeiro, havia na ribeira do Curimataú, afluente do Jaguaribe, uma fazenda chamada Poço da Moita...(...);
2- A tia Luizinha, do conto, A Lagoa do Tauape, é Luiza de Oliveira Paiva, irmã de minha avó paterna, Rosa de Oliveira Paiva e do escritor Manuel de Oliveira Paiva (romancista, contista, poeta...);
3- Nesta postagem, condensei o conto, A Lagoa do Tauape, por ser muito extenso. No conto original, consta a poesia "Furto d'alma", que foi publicado na postagem do dia 13-04-11, aqui, na Cadeirinha de Arruar.
2- A tia Luizinha, do conto, A Lagoa do Tauape, é Luiza de Oliveira Paiva, irmã de minha avó paterna, Rosa de Oliveira Paiva e do escritor Manuel de Oliveira Paiva (romancista, contista, poeta...);
3- Nesta postagem, condensei o conto, A Lagoa do Tauape, por ser muito extenso. No conto original, consta a poesia "Furto d'alma", que foi publicado na postagem do dia 13-04-11, aqui, na Cadeirinha de Arruar.
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Eu vou mas volto.......................Um abraço!