(IN) SAGA DE UMA FAMÍLIA (IV)
Barra do Cunhaú, no município de Canguaretama-RN (Brasil),
vendo-se as margens do Rio Cunhaú...
(Foto: google)
A "mancha" vermelha, na forma de um "avião", é o município de Canguaretema. É natural, que se queira
dar formas às coisas, objetos, desenhos e tal...Vejo, no mapa do Rio Grande do Norte (RN), um elefante,
sentado. Canguaretama, fica limítrofe com a Paraiba (PB), na parte Sul. Ao Norte, o seu limite é com o
Ceará (CE). NOTA: em 2007, quando viajei a Canguretama, fiz o transcurso ,Fortaleza(CE)-Natal (RN),
de avião ( 45 minutos de vôo). No aeroporto, alugamos um carro, meu marido e eu, indo direto para a
Barra do Cunhaú, onde estava reservado um apartamento, em uma pousada. Ficamos lá, apenas dois dias.
A Barra do Cunhaú, é um dos lugares mais lindos que já conheci, no litoral brasileiro. Canguaretama, fica a
87 kms.de Natal, capital do RN. A Barra do Cunhaú , dista cerca de 5kms. de Vila Flor, e 18kms. do
centro de Canguaretama. (Foto: de Raphael Lorenzeto de Abreu - Wikipédia)
Barra do Cunhaú (Foto: Google)
Barra do Cunhaú(Foto: google)
Por volta de 1550, marinheiros de Dunquerque encalharam na foz
do Rio Cunhaú. Enquanto esperavam resgate, construiram, com as
pedras que haviam em volta, o Forte da Barra do Cunhaú. Depois
que se retiraram, passou a ser usado para defesa do Engenho Cunhaú,
distante 18 quilômetros.Durante a Invasão Holandesa, foi atacado
duas veses. Os únicos vestígios hoje, são os canhões. O forte, teria
sido a primeira obra arquitetônica, no Rio Grande do Norte.
(Foto: do google)
Local onde existia o Forte da Barra do Cunhaú. (Foto:do google)
Embarcação, para passeios turísticos, que fazem a travessia pelo
Rio Cunhaú, passando por mangues, e levando à praias distantes,
como Baia Formosa, na Paraiba (limite com RN) . (Foto: google)
Barra do Cunhaú. Local de onde saem as barcas, para a
travessia, no Rio Cunhaú. Os passeios turísticos, são
diários. (Foto: do google)
Desenho, do Engenho Cunhaú, feito pelo desenhista holandez,
Frans Post(1612-1681), que ficou a serviço de Maurício
de Nassau, para retratar cenas brasileiras.Frans Post chegou ao
Brasil em 1636...NOTA: observem a Capela do Cunhaú,
à esquerda, vendo-se a sua lateral, estando sua frente bem
junto à casa. A Casa-Grande, foi destruida, depois da morte
do último "Senhor do Cunhaú", Dendé Arcoverde (André de
Albuquerque Maranhão Arcoverde), para a construção de
uma usina. Hoje, não mais existe a usina, apenas a capela,
que esteve em ruinas, mas foi totalmente reconstituida e
tombada pelo IPHAN, nos anos 1980...
(Foto: Wikipédia)
Frans Post (1618-1681), desenhista holandez, que
esteve a serviço de Nassau, para "retratar", em
desenhos, cenas brasileiras, principalmente do
Norteste brasileiro. Chegou, ao Brasil, em 1636.
(Foto: Wikipédia)
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DENDÉ ARCOVERDE (II)
De estatura acima da mediana, robusto e bem conformado,
Dendé Arcoverde tinha os ombros amplos e o torax saliente, dispunha de força incrível, cavaleiro emérito e atirador maravilhoso. Pulava agilmente uma janela, de costas. A barba negra curta, rente à face vermelho-clara, fazia ressaltar a dentadura perfeita, branca como côco ralado. A voz é alta, estertórica, audível à distâncias que as lendas multiplicam. Os olhos rasgados, enormes, negros e luminosos, faiscavam de irritação conínua. A esclerótica, raiada de sangue, é um distintivo que transmitiu aos seus bastardos.
Morou sempre em Cunhaú onde tinha uma "parte" herdada de sua Mãe, cujo inventário é de 1846. Só arrendou as "partes" de seu tio, o Capitão-Mór André de "Estivas" e de seu primo, o Comendador André D'Albuquerque Maranhão, de "Itapecerica", em 1851. Cunhaú estava no centro de suas terras. Englobavam-se nelas a "usina Maranhão", "Bom Passar", "Torre", Antônio Freire", "Areré", "Mangueira", "Cruzeiro", "Estrela". Tudo era Cunhaú. Até a extensão verdejante do "sítio Estrela", se incluia na denominação do engenho tradicional. Derredor dessa região rodava o Mêdo...
Criminoso que tocasse, ao menos tocasse, uma estaca do Cunhaú, estava valido. Não havia "força do Governo" que se atrevesse a perseguí-lo. A casa-grnade ficava circundada de choupanas onde se acoitavam os "fora da lei", fanáticos pelo brigadeiro, sombra do seu braço.
Depois do jantar, até às trindades, o Brigadeiro, todo vestido de branco, passeava ao escurecer na calçada imensa da residência. Quem tinha negócio e não era pessoa de merecimento, alinhava-se junto aos outros pretendentes, esperando que um olhar casual do Brigadeiro pousasse nele. Ninguém ousava dirigir-lhe a palavra e sim responder. Mas, fosse como fosse, não deixavam de ter negócio e "trato" com ele. Não perdoava dívidas nem ficava devendo.
Foi o vingador de André d'Albuquerque, seu tio, assassinado
em abril de 1817. Voltando d'Europa e sabendo minuciosamente a morte do parente, inqueriu da vida do matador.Disseram que uma tentativa a tiro havia falhado. Dendé, reprovou a técnica.
- Qual tiro! Tiro, faz barulho e assombra a caca.
Vamos à faca. É silencioso e seguro.
Procurou informar-se. Apontaram vários nomes, como responsáveis. João Alves de Quental esporeára o cadáver. Francisco Felipe da Fonseca Pinto, o alfaiate Costa Bandeira.
falaram do tenente-coronel Antônio José Leite de Pinho.
- Eu não quero saber dos outros acusados. Ferissem ou não, certamente ficaram com medo da vinganaça. O que eu desejo saber é quem pregou uma medalha no peito e cercou as mangas de galões por ter assassinado um Cunhauzeiro. Quem aproveitou do crime é que é o principal criminoso.
Mandou um negro e um caboclo matarem à faca o coronel
Leite de Pinho. Entrgou-lhes facas de prata, dizem que envenenadas. Prometeu que nunca mais teriam necesidade de cousa alguma se trouxecem as orêlhas do coronel. Os dois mandatários espreitaram Leite de Pinho durante horas.
Numa tarde de procissão terminada a cerimônia, o coronel deitou-se num tapete, diante da casa, na atual praça 7 de Setembro, em Natal, tomando fresco, e brincando com um neto. Os dois enviados do Cunhaú cairam sobre ele numa luta feroz e rapida. Não lhe poderam cortar a orêlha, mas deixaram as facas enterradas no ferido, e fugiram. Leite de Pinho faleceu na madrugada de 15 de março de 1834.
Dendé recompensou seriamente os dois asseclas, mandou
sepultar o negro, vivo, perto da Casa-Grande do Cunhaú e plantou um coqueiro em cima do túmulo. O caboclo foi empalado na Mata das Varas e o corpo mumificado, até poucos anos espavoria os lenhadores. Cumprira a promessa. Caboclo e negro nunca mais tiveram necessidade de cousa alguma...
É a façanha mais antiga de Dendé, sua "entrada" solene no memorial truculento em que é recordado.
Ignoro a origem do seu tratamento de "Brigadeiro". Debalde, a meu pedido, o saudoso general Luiz Sombra rebuscou arquivos militares no Rio de Janeiro. Não há o menor vestígio de razão nesse título altissonante correspondente ao nosso "General de Brigada". Mas "Brigadeiro" é com Dendé Arcoverde é citado em toda a região de seu prestigioso renome. Substitui quase o nome. Dizem, comumente "o Brigadeiro", e já se sabe que a evocação se refere ao impetuoso senhor do Cunhaú. De onde, e porque lhe veio o tratamento militar, quais os serviços para merecê-lo, em que época recebeu a mercê honorária, não sei. Não foi possível, apesar das pesquisas, saber.
O homem de confiança do Brigadeiro Dendé Arcoverde
era o negro Simplício, conhecido por "Cobra Verde", alto, magro,, sério como um ídolo, ágil como o vento. Era o melhor atirador dos arredores e nunca errou um tiro. Sua arma especial era uma carabina Minié batizada por "Meio berro", porque matara uma novilha antes do animal acabar o berro iniciado. Um bastardo de Dendé, Afonso Arcoverde, presenteou a arma ao Cel. Felipe Ferreira, de "Mangabeira" e este oferecu-m'a. Dei-a ao Instituto Histórico do Rio Grande do Norte, onde se encontra.
O negro Simplício depois da morte do Brigadeiro, deixou a Prvíncia e se instalou num casa que erguera no meio do mato, como um bicho saudoso da solidão e do mistério. Não admitia visitas e andava sempre armado. Jamais falava no nome do amo, a quem adorava. Morreu no dia do Natal de 1896, quando completava cem anos, data predita por ele como sendo de sua morte. Está sepultado em Mataraca, na Paraiba.
(08.05.1941)
FONTE: "O Livro das Velhas Figuras" , vol. 3, Luis da CÂMARA
CASCUDO, Natal: IHGRN, 1977.
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NOTA: Na próxima postagem, publicarei a III ACTA DIURNA,
de autoria de Luis da CÂMARA CASCUDO, relativa a Dendé do Cunhaú...
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Estou indo, agora,.................................mas volto, um abraço!