quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O NORDESTE, SEGUNDA-FEIRA, 7 DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XX)
O poeta da abolição
J. PAIVA
JOÃO BRÍGIDO dos Santos (1829-1921),  foi 
historiador, jornalista, monarquista assumido.No entanto,
depois da Proclamação da República, tornou-se um
defensor do novo regime. (Fonte: Wikipédia).
Lamentavelmente, não disponho de foto antiga, do "ribeiro" Pajeú,
mais conhecido como Riacho Pajeú (publico fotos atuais). Há alguns
anos, a administração pública "batizou" essa praça de Parque Pajeú. 
O Parque Pajeú é bastante aprazível, com relação ao paisagismo 
mas, entanto, deixa muito a desejar quanto à preservação e higiene. 
Vê-se,na foto,  o quanto está degradado, com a poluição...
(Foto): blog Fortaleza em Fatos e Fotos)
Parque Cocó, por onde corre o Rio Cocó....(foto: google)
Foz do Rio Cocó,em Fortaleza. (Foto: Galeria Alex Uchoa - net)
Foz do Rio Cocó, em Fortaleza. (Foto: Galeria Alex Uchoa - net)
Foz do Rio Cocó, em Fortaleza. (Foto; Galeria Alex Uchoa - net)
Rio Cocó, em Fortaleza. (Foto; Galeria Alex Uchoa- net)
Foto mostrando o casario da ladeira que desce do planalto do, chamado outrora, 
Outeiro da Prainha até a antiga Praia do Peixe, hoje Praia de Iracema. (Arquivo Nirez)
Ladeira da Prainha, vindo da Igreja de N.S. da Conceição da
Prainha, localizada no planalto do Outeiro da Prainha....(nome
do antigo bairro de Fortaleza - Foto: Arquivo Nirez).
Vê-se na foto toda a extensão da Praça Cristo  Redentor, no planalto
do antigo Outeiro da Prainha, vendo-se, ao fundo, a Igreja de Nossa
Senhora da Conceição da Prainha....(Foto: Arquivo Nirez) 
Monumento ao Cristo Redendor, bem próximo à
Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha.
(Visite o blog, cujo site está impresso na foto acima, 
para maiores informações).
Esta foto me foi cedida, por e-mail, por Fátima Garcia, dona do
blog Fortaleza em Fotos e Fatos, cujas matérias retratam, com
 excelência, a Fortaleza de ontem e de hoje. Vê-se, na foto, o
Riacho Jacarecanga, aí denominado de Lago Jacarecanga....
Casarões do bairro Jacarecanga, que era considerado o
"bairro das elites"( intelectual e rica)de Fortaleza. Poso afirmar
que, realmente, haviam belas mansões, na década de 1950,
60, quando eu por lá andava....(Foto: Arquivo Nirez)

Casarão de Thomaz Pompeu Sobrinho, no bairro JACARECANGA
que foi restaurada e onde, atualmente, funciona a Escola de Artes e Ofícios
 Thomaz Pompeu Sobrinho, gerida pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará.
(Site:  Projeto  Patrimônio Para Todos).

Foto mostrando um poluído Riacho Jacarecanga.
(Imagem cedida, por e-mail, por Fátima Garcia, do
blog Fortaleza em Fotos e Fatos). 
Desenho mostrando a Igreja de Santana, no Rio de Janeiro, onde se
instalaria  o Jardim da Aclamação, depois Campo de Santana e ,
posteriormente, Praça da República, (mais conhecido por Campo
de Santana.  (Imagem: google). 
Postal com o belo Jardim (ou Parque) da Aclamação, no Rio. de Janeiro...
Foto atual do antigo Jardim da Aclamação, hoje Praça da República, que
 já foi Campo de Santana, e que, por este nome, é mais conhecido, no Rio...

O antigo JARDIM DA ACLAMAÇÃO,  ocupa uma imensa quadra, 
do lado da Av.Getúlio Vargas,fica em frente à Central. do Brasil, de onde
 chegam e partem os trens para a zona norte do Rio de Janeiro(Foto; google)
Joaquim Manoel de MACEDO (1820-1882) ,
que bem descreveu o Rio de Janeiro em seu mais
famoso romance "A Moreninha".... 
José de Alencar (1827 - Messejana- Ceará , 1877-
Rio de Janeiro) escritor, autor do romance IRACEMA...  
Era filho de José Martiniano de Alencar (foto abaixo).
(Fonte; Wikipédi) 
José Júlio Albuquerque Barros (1841, Sobral-CE-
1893, Rio de Janeiro), foi presidente da Província do
 Ceará de 1878 a 1880 e da Província do Rio Grande
do Sul de 1883 a 1885). Foi BARÃO DE SOBRAL.
 (Fonte: Wikipédia).




Uma particularidade :  João Brígido faz uma completa descrição do ribeiro Pajeú,que dividia a Fortaleza de 1810 em duas zonas distintas, a da margem direita, o planalto, conhecido por Outeiro da Prainha; e a do lado oposto, ocidental, os terrenos ligeiramente acidentados, onde se ergueu grande  parte da capital, até o ribeiro da Jacarecanga. Oliveira Paiva, que morara, em conta redonda, 7 anos no Rio, tão bem descrita por Macêdo, na esplêndida maturidade do Segundo Império, e por este mais e melhor romanceado do qe por Alencar, voltava a adorar os penates e portanto escrevia:
      
       "Por entre os coqueirais do Pajeú
                    Já penetrava o sol.
        As cunhãs com as cuias de bejú,
       As velhas rezadeiras de lençol,
       Os matutos co'as cargas de farinha,
       Vendedores da Feira, os da geninha
       - Corrução da gostosa gengibirra -
       Na hora em que se acorda e que se espirra
       Saindo ao ar da frígida manhã.
                    Transitavam na rua:
                    Como transita a lua
       Entre as nuvens do céu linda e louçã.

       Onde foi que o Jardim da Aclamação,
                    No Rio de Janeiro,
       Pôde mais comover o coração
       - Apesar de cheirar muito a dinheiro -
       Que o nosso majestoso Pajeú?
       Onde contrasta a gia, o cururu,
       Com o vem-vem, o canário e a patativa!

Era, não há dúvida, uma nota de saudade do tempo anterior ao Seminário, quando, chegados ao Outeiro, todos da Família Paiva de Oliveira, que o eu tio Manoel mudou logo para Oliveira Paiva ao voltar da Escola Militar, num ano de bom inverno, banhavam-se nas águas do Pajeú, ex-Marajaitiba, Ipojuca e Telha, que vinha dos lados do Cocó até a represa ou açude feita em 1836 (Senador Alencar) e reconstruída em 1878 (José Júlio)Campus ubi Troja fuit...e eu também por alí fui nado e criado, ouvindo o coaxar sinfônico dos batráquios e um rasto de cantar melodioso dos pássaros, apesar da baladeiras dos meninos do fim do século.

Vamos limitar este capítulo a um círculo de cerca de dois anos : 1883 - 1884, pois a Abolição no Ceará teve seu complemento ruidoso a 25 de Março, quando Manoel de Oliveira Paiva publicou outro poemeto que não possuo. Segundo José dos Santos (Miguel Linco, da Padaria Espiritual), em 1884, ele ao lado de João Cordeiro, Antônio Bezerra, João Lopes, Antônio Martins e outros, "trabalhava empenhadamente em prol da liberdade do escravo", e Araripe Júnior, em um artigo Um romancista do Norte, observava( no jornal Tempo, do Rio) que "nesse tumulto de entusiasmo, Oliveira Paiva extenuou-se em discursos e versos".

No grupo dos fundadores da "Sociedade Libertadora Cearense", a 8 de dezembro de 1880, impresso à página 7 do Boletim nº 3, de 21 de fevereiro de 1941, do Instituto do Ceará, 1º Centenário de Nascimento de excelso historiógrafo Antônio Bezerra, Manoel de Oliveira aparece ao lado das inolvidáveis figuras  do mesmo Antônio Bezerra e de Isaac Amaral,Papi Júnior, William John Ayres, Abel Garcia, João Cordeiro, Francisco do Nascimento (Dragão do Mar), Alfredo Salgado, João Lopes,, José do Amaral e Antônio Martins. Não sabemos, por falta de dados completos, qual a posição oficial de Oliveira Paiva nesse movimento, mas o que nos parece é que naquele conjunto um pouco ampliado no número de pessoas, ele surge como uma necessidade indispensável de vincular no heróico movimento sua onimoda participação, sacrificando, à causa, grande parte de sua energia que se esgotavam já aos poucos, como veremos pelos seus restantes anos de vida...

Por J. Paiva
...continua...


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NOTAS:
1- Desde o Capítulo I temos mantido a forma ortográfica de como foi escrito o texto original de J. Paiva, em 1952;

2- Trazemos, desde o primeiro capítulo, muitas imagens  para que o leitor,tenha uma "visão" anterior a da descrição do texto biográfico, e para que haja uma melhor "compreensão"  da época;

3- A foto do grupo da SOCIEDADE LIBERTADORA CEARENSE,
citada no capítulo de hoje, foi publicada na postagem do Capítulo XVIII, de duas semanas atrás;


4- Os três próximos capítulos trarão, como sub-título, "O assalto da idéias". Aguardo você, sempre!

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Em uma semana, estarei de volta. Um abraço!


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O NORDESTE, SÁBADO, 5 DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XIX)
O poeta da abolição
J. Paiva
A bela Fortaleza d'outrora....
.....que tinha, até, em pleno centro da cidade, um cajueiro "botador"...
....mágicos jardins, igrejas, cata-ventos, chafarizes, coretos....
....e que, da beira- mar, se avistava o longe...a se perder no horizonte...
Com a seca de 1877, "teve uma indigestão de peste e de pobreza"..
Não muito distante, em Messejana, muitos iam refazer suas forças...
(Imagens do google e arquivo nirez).
"Pormenor do mapa da costa do Ceará de 1629 (Albanez), no qual
se destaca a área de Mesejana" (aldeia dos índios Potyguaras).
Etmologicamente o toponímio Messejana originou-se do árabe masjana,
que significa prisão ou cárcere. O nome não tem origem indígena, como
muitos pensam, pois foi inspirado no nome da já existente vila de Messejana,
no conselho de Aljustrel, em Portugal. (Fonte: Wikipédia)



Em 1883, isto é, no mesmo ano em que para cá regressara, publicou o conto "Zabelinha ou a Tacha Maldita". Era o homem original em tudo, que intitulou seu curto prefácio com um estranho "Escutem...", e terminou com um "Até outra", como se tudo lhe fosse impulso do coração, aguilhoado em luta ingente pelo ideal, assim como, oito anos mais tarde, teria que começar o romance "Dona Guidinha do Poço" com um desabusado "De primeiro..." acompanhando a ignorância tão somente livresca do nosso povo, que ele tanto amava quando modelou seus tipos com o barro que bem conhecia...

"Isabel era um poema escrito em papel de embrulho", que viera, pertencendo à nobreza do sertão, quando

   "Outrora esta  cidade, a bela Fortaleza,
    Teve uma indigestão de peste e de pobreza:
    Os lindos arrebaldes eram campo enorme
    Coberto de barracas de homens semi-nús."

Parece-nos, afora a peste, que a "loura desposada do sol" não mudou muito de 1877 para 1951, a seca do ano passado, até mesmo 1952. Dona Mariana, sua enfatuada avó que se dizia: "sou pobre e miserável, mas hei de honrar os meus", queria que ela casasse com o Chiquinho, pobre libertino, filho de Dona Marciana, "de olhos encovados pela vigília, olhar cínico, faces pardacentas", que disto tudo "ia se refazer em Messejana" pois era sabido

     "Que fôra para a Europa, inda menino,
       Aprender a riscar na pedra o giz
       Nas grandes faculdades de Pariz.
       Aprendera, porém uma outra cousa
       Que costuma levar o moço à lousa
       Não deixa de saber engenharias  
                      Quem conhece o champagne
                      Muito embóra o que ganhe
       Ponha a juro no jôgo e nas orgias"

Acontece que Dona Marciana, mãe do indesejável tipo, era a madrinha de Izabel, neta da aristocrática Dona Mariana; mas João, um marceneiro que,

       " Filho da raça cruzada
         De branco, negro e tupi,
         Tinha a pele bronzeada,
         Não era filho daqui", 

pretendia a mão de Izabel, que ao seu amor correspondia. Numa palestra que, pela convivência em casa da madrinha, tem com o esquálido e corroido Chiquinho, a um atrevimento deste, joga-o ao chão com rija bofetada, como se fora uma múmia. Com o tempo faz o casamento, e só depois é que souberam que o "mulato João, marido de Izabel...fugiu do cativeiro", o que a altiva avó considerava pior cousa que matar roubar e ferir...Mas,

        "Ao homem forte, ao rijo coração,
         As cousas tendem incessantemente,
         Obedecendo a um centro de atração.

         Assim,o pardo João vive contente:
         Ele e Iza, um ser só, um coração,
         Mas - sustentando a velha - finalmete."
Por J. Paiva
...continua...


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NOTAS: 
1- Mantive a ortografia original, do texto biográfico escrito por J. Paiva, quando de sua publicação em 1952, no jornal O NORDESTE, de Fortaleza;

2- Desde o primeiro capítulo, tenho antecipado, à digitação do texto, imagens e legendas relacionadas à narrativa da biografia de Manoel de Oliveira Paiva, escrita por José Joaquim de Oliveira Paiva (J. Paiva), sobrinho do biografado e meu pai,
com a intenção de trazer o leitor o mais próximo possível dos fatos e da época em que tudo se desenrolou;

3- O próximo capítulo, ainda tem como sub-título "O poeta da abolição", para em seguida, nos capítulos XXI, XXII e XXIII, surgir um outro : "O assalto das ideias"...Não perca!!!

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Em uma semana estarei de volta ...Um abraço!




quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O NORDESTE, SEXTA-FEIRA, 4 DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XVIII)
O poeta da abolição
J. Paiva



Alunos da Escola Militar, na década de 1870, junto ao Morro da
Urca, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Na Escola Militar do
Rio de Janeiro, nesta década, estudou Manoel de Oliveira Paiva.
Estaria ele entre os da foto?....não se sabe!!! É possível, ele lá
permaneceu, na Escola Mliatar, de 1875 a 1883).
(Foto: site:Bicentenario da AMAN).
Manoel de Oliveira Paiva, em seu uiforme de Cadete,
como aluno da Escola Militar do Rio de Jaeiro.
(Foto: Arquivo Lúcia Paiva).
Escritor e crítico Calos Maul (1887-1974), nasceu em
Petrpopolis (RJ), foi redador do Correio da Manhã,
membro atuante da Sociedade Brasileira de Geografia
e Filosofia ...autor, dentre outros ,de  "O Exercito e a
Nacionalidade. ( Fonte:Blog A REVOLUÇÃO ACONTECE)
"O Exército e a Ncionalidade" de Carlos Maúl.
(Imagem: mercado livre- google)
                               
Duque de Caxias (Wikipédia)
Dom Pedro II (Wikipédia)
Conde D'Eu (Wikipédia).
Princesa Isabel (Wikipédia).
SOCIEDADE LIBERTADORA - em pé: Isaac Amaral, Papi Junior,
William Ayres, João Cordeiro, Antônio Bezerra, Dragão do Mar,
Alfredo Salgado; sentados:  OLIVEIRA PAIVA,  João Lopes,
José Amaral, e Antônio Martins. (Arquivo Nirez).
Jornal "Libertador", publicado no dia 25 de março de 1884 pela
Sociedade Libertadora Cearense, em homenagem à libertação
total dos escravos do Ceará.  Fonte::Wikimedia Commons)
":Anos antes da Proclamação da República, notabilizou-se
a capanha abolicionista no Ceará, que logrou abolir a escravidão
no estado a 25 de março de 1884, quatro anos antes da "Lei Áurea".
(Fonte: Wikipédia)
"Ceará, Terra da Luz, Berço da Liberdade" ...José do Patrocínio.
Assim chamado, "TERRA DA LUZ", por ter sido o pioneino, na
LIBERTAÇÃO DO ESCRAVOS... (Imagem: google)...





Vale a pena colocar, como roteiro desta nova fase da curta mas movientada vida de meu tio, acima de tudo tão dolorosa, o que escrevia Antônio Sales logo após a sua sentida morte, na citada poliatéia. Primeiramente destaquemos sua  atitude, em 1883, quando voltara definitivamente do Rio de Janeiro, abandonando os estudos militares por força da insidiosa moléstia, depois de ter, sete anos antes, saído, por um lamentável incidente, do Seminário do Crato: a plena adesão à causa da libertação dos escravos, que no Ceará foi guindada à categoria de uma epopéia.
"A esse tempo, comentava o insigne escritor, a campanha abolicionista estava no auge da intensidade, e ele, que vinha em busca de saúde, que lhe podiam dar o ar e o sossego do campo, empenhou-se na luta de corpo e alma, pondo a sua palavra e a sua pena a serviço da propaganda libertadora, com sua tenacidade feliz de evangelista, dissipado alegremente a seiva do seu organismo  que a tuberculose começava a roer..."
Da Escola Militar ficara em seu espírito uma característica do soldado brasileiro que, em sua obra, "O Exército e a Nacionalidade", Carlos Maúl considera até mesmo como um traço fisionômico do que poderíamos chamar de "antimilitarismo dos exércitos americanos" : "Se lhe ordenam que se mobilize para a detenção dos negros fugidos do cativeiro, ele recusa essa tarefa de "capitão do mato" e adverte aos que  lhe querem impor tal atividade que o papel de janízaro ou de pretoriano é incompatível com a sua missão de sentinela vançada do Brasil. Foi, evidentemente, esse cruzar de braços do Exército o gesto mais influente na liquidação da escravatura de que se nutria a nossa errada política econômica e dele nasceram novos itinerários ao trabalho dignificante e livre".

Caxias, o Patrono do Exército Brasileiro, o Soldado Perfeito, o Santo da Pátria, o máximo e decisivo dirimidor das lutas externas e internas, é o guerreiro que "ás vezes recolhe o elmo, despoja-se de ferros da armadura e atende à política que o chama ao Ministério. E, na paz como na guerras, é o mesmo varão excelso com o pensamento nos interesses supremos da Pátria, embora a investidura lhe venha apenas de um partido a cujas contigências humanas não seria mais do que humana a sua subordinação". O Imperador temia que o Tesouro ficasse descalço "tanto põem e tiram a sapata desta arma", como certa vez dissera a um ministro. E o Conde D'Eu, Soldado do Brasil, influenciava "sobre a esposa em matéria de questões nacionais, ao tocar um ponto singular e sempre com intenção benéfica".

Manoel de Oliveira Paiva trouxera da Alta Caserna não  somente o amor às causas humanitárias como também a paixão sôfrega pelas Letras, nas quais se iniciara colaborando na imprensa da Escola Militar, fora aprender a empunhar com técnica perfeita as armas da defesa da Pátria, mas, premido pela moléstia apenas lhe ficara na mão a pena, esta arma soberanamente humana que vinha ensaiando suas porfiadas lutas pela idéia generosa de, na revisão respeitosa do passado, glorificam, em qualquer nacionalidade, anticlericais e  ultramontanos.
Ia entrar na na liça da pena, como cavaleiro do pensamento mergulhado na fonte perene do Cristianismo ao serviço da redenção dos filhos da África. Não havia chrorado sua pobre mãe ao vender o pretinho Anselmo, filho como sua irmã e minha inesquecível Madrinha Paula, a "Negra Cassiana lá de Sobral",como era conhecida por sua popularidade na fazenda "Três Lagoas"? 
A vovó, com a seriedade que lhe impunha à própria consciência, chegara a consultar antes da triste transação, seu confessor...
Por J. Paiva
...continua...




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NOTAS:

1- Como venho procedendo, desde o capítulo I desse texto biográfico de J. Paiva, a ortografia original da época em que foi
escrito, 1952, foi mantida, nesta publicação;

2- Venho também apresentando uma série de imagens, antes do
texto, com o único intuito  de ilustrar o espaço, mostrando um pouco do que é citado na biografia de Oliveira Paiva, quanto à pessoas, lugares, fatos...;

3- Os dois próximos capítulos terão também o sub-título,  "O poeta da abolição". 




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Volto, em uma semana.........um forte abraço!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O NORDESTE, QUINTA-FEIRA, 3 DE JULHO, DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XVII)
Na Escola Militar do Rio
J. Paiva
Estação de trem do municipio de Caucaia, antiga Soure, a 17 km
de Fortaleza - Ceará - Nordeste do Brasil. 
Antiga Estação de Soure, hoje Caucaia...
A primeira denonominação do lugarejo, era "Caucaia", depois "Aldeia
dos Caucaias", "Aldeia de Nossa Sehora dos Prazeres de Caucaia",
"Vila de Soure", "Soure" e, desde 1943, "Caucaia"...(Foto: google).
Esta é a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, que constitui uma das
mais antigas realizações dos colonizadores e foi concluida em 1749.A
15de outubro de 1759, a Aldeia dos índios caucaias foi elevada à Vila,
cuja freguesia ficou sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres.
(Fonte: Wikipédia)
.
.




 
   Todas as fotos de Caucaia, acima, no litoral cearense, distante
17 km de Fortaleza, foram "salvas" no google...                    
                                    

Antiga Estação de trem de Baturité, inaugrada em 1882. Hoje,com a
 a rede ferroviária desativada, funciona, na velha estação,uma oficina 
 e feira de artesanato. (Foto: site Estações Ferroviárias do Brasil).
Baturité, região serrana, fica a 93 km de Fortaleza.

 Estação de Trem de Baturité, em foto mais antiga.
Comparando-se com a foto anterior, vê-se que o edifício "sofreu"
alterações, na parte superior da fachada... (Foto: site Estações
Ferroviárias do Brasil)
José Maria Bezerra Paiva, Teatrólogo, filho do biógrafo
J. Paiva e sobrinho- neto do biografado, Manoel de
Oliveira Paiva, recebendo o Troféu Carlos Câmara,
de 1988,por suas realizações e obra, no teatro cearense.
(Foto: Arquivo de Lúcia Paiva)
O Tetrólogo B. de Paiva (José Maria Bezerra
de Paiva), após receber o Troféu Carlos Câmara,
de 1988, prêmio anua,l para os que se destacam
na área teatral do Ceará...(Foto: Arquivo Lúcia Paiva)
Abaixo: foto do poeta Antônio Sales >>>



O poeta Antônio Sales, foi o criador da Padaria Espiritual, grande amigo de
Manoel de Oliveira Paival e responsável pela preservação da memória
 do escritor cearense, como guardião do seu romance Dona
Guidinha do Poço. (Foto: google)
Estação da Côrte.em  foto de 1870. (Do site Memória histórica da
Estrada de Ferro Central do Brasil).
Uma pintura de Debret, retratando a Corte, no Rio de
Janeiro, com  homens sendo conduzidos em charrete e,
uma dama, na Cadeirinha de Arruar....



Como observava mais Antônio Sales,"apesar de muito franzino, tinha uma musculatura forte e flexibilidade pelos exercícios ginásticos - uma lâmina de aço, e portanto distinguia-se na Escola - quer nos torneios da inteligência, quer nas proezas cavalheirescas da vida acadêmica" . "Mas, acrescentava, o aço também se oxida, e Oliveira Paiva adoeceu do peito em 1881, quando obteve licença para vir tratar-se aqui".

Conheceu-o então Antônio Sales em Soure (hoje Caucaia), "onde ele fora procurar saúde, envergando a blusa de aluno sobre o corpo direito e fino".  A mamãe contava, de quando em quando, a ida de todos da casa com ele, divertida vilegiatura  que não há de ter pouco contribuído para a descrição de cenas de "Dona Guidinha do Poço". Meu tio, apesar de doente, era o centro das palestras, na época das novenas de Nossa Senhora dos Prazeres, onde se discutiu uma questão de terras do Patrimõnio, em voz alta e com argumentos de lado a lado. O laureado poeta, primeiro depositário do precioso legado do tio Manoel, aos 16 anos e com uma timidez excessiva, ouviu-o fazer um brinde: "entusiasmei-me, escreve, e chamava-lhe, respeitosamente: " Seu Cadete!". 

De volta de Soure, com uma melhora um pouco acentuada, ainda demorou algum tempo em Fortaleza. Não se poupava porém e, tendo escrito um pequeno drama, que minha última tia e madrinha Luiza de Oliveira Paiva, então com 11 anos, não se lembra se era "O Conde Renaudo" ou "Reynolds" ia ensaiá-lo, ele próprio, à noite, voltando lá pela madrugada à casa.  Apesar das brandas censuras de uma solícita mãe, ciosa de sua saúde periclitante.
Acontece o mesmo com o filho mais velho de quem escreve estas linhas, caminhando para os vinte anos, como tinha de idade então Manoel de Oliveira Paiva, talvez doente incurável, atualmente em viagem através da Estrada de Ferro de Baturité, a serviço da Sociedade Cearense de Fotografia e Cinema, acompanhado de uma pequena "troupe", da qual também faz parte um irmão menor, Carlos Alberto, o José Maria Bezerra de Paiva, que escreve, adapta, monta, ensaia e representa dramas, é sobrinho-neto de Antônio Bezerra de Menezes, pelo lado materno e pelo lado de quem redige essas notas também sobrinho-neto de Manoel de Oliveira Paiva.
Antônio Bezerra e Oliveira Paiva eram amigos íntimos, e ainda agora acabamos de conversar com as suas ilustres filhas em sua residência acerca dessa amizade, encetada durante as lutas pela libertação dos escravos.

Seguiu, enfim, para a Côrte; mas acompanhemos Antônio Sales: "dois anos mais tarde, em 1883, adoecia, porém, de novo e gravemente, sendo obrigado a dar baixa e vir para aqui quando justamente concluía o Curso Preparatório e ia matricular-se no Superior".

De 1875 a 1883 tinham-se, pois, evolado as aspirações de Sacerdote e de Soldado. Poucos anos, apenas nove cada vez mais dolorosos anos, teria de vida, porém esse pouco mais de um terço de sua breve existência teria de ser  o período de intensidade das lutas, da boemia e da perfeita ascensão nas Letras, chegando a sobressair no conceito social e político do Ceará de 1883 a 1892.
Por J. Paiva
...continua...

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NOTAS:
1- Mantive o texto biográfico de J. Paiva confome
o que foi publicado, originalente, em 1952, no jornal cearense "O NORDESTE";

2- Todas as imagens expostas antes do texto, algumas com legendas, têm o caráter ilustrativo para mostrar ao leitor um pouco da paisagem cearense, e outros elementos da narrativa;

3- Os próximos três capítulos terão, como sub-título, "O poeta da abolição". Aguardo você!

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Até a próxima semana........um forte abraço!