quarta-feira, 27 de junho de 2012

O NORDESTE, QUARTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XI)
No Seminário do Crato
J. Paiva
O município de Fortaleza, capital do Ceará, está distante 567 km 
 do município do Crato que fica localizado no sopé da Chapada do
Araripe, no extremo-sul do estado,  na Microrregião do Cariri...
(Wikipédia)
Chapada do Araripe.Região do Cariri. Crato. (Wikipédia)
Índios da  Tribo Cariri, primeiros habitantes da Região do Cariri.
(Imagem: google)
Índios Cariri. (Foto: blog Caricaturas).
Índio Cariri (foto: blog Cultura do Cariri)
Cícero Romão Batista, nasceu no Crato,
em 1844 e faleceu em 1934, em Juazeiro 
 do Norte, Estudou e ordenou-se  no 
 Seminário da Prainha, em Fortaleza.
Na foto, com 80 anos de idade.
( Fonte: Wikipédia).
Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, preservando a 
cultura do Crato. (blog Cultura do Cariri).

O vídeo, abaixo, é uma homenagem ao cantor Luiz Gonzaga, pelo centenário de seu nascimento, a se completar neste 2012. O "Rei do Baião" canta a composição de José Jatahay, "Eu vou pro Crato". Luiz Gonzaga, conhecido também por Gonzagão, nasceu em Exu, distante 62 Km do Crato. Exú, fica no Cariri Pernambucano, no sopé da Serra do Araripe...
Apreciem e se alegrem, ouvindo o "forró pé de serra", com a gostosa sanfona do "Lua", antes de ler, abaixo do vídeo, o escrito de J. Paiva...
.

Assumira a Reitoria da Casa de Estudos o Padre Enrile, tendo como auxiliares os padres  Richoux e Brayde, frequentando as aulas 41 meninos.  Não sabemos se porquê o Seminário de Fortaleza, não comportava maior número de alunos, ou porquê antes tivesse em vista o Reitor mandar aqui para o Crato algum menino mais piedoso e já um pouco instruido, o único da capital ou acompanhado de outros, seguira Manoel de Oliveira Paiva, aos 14 anos incompletos, se estamos certos da data, que com muita probabilidade foi logo no início das aulas.   Supomos que êle era uma "avis rara" no meio de algumas dezenas de meninos matutos da zona do Cariri, que talvez fossem angariados para experiência, afim de dar início aos estudos.  Possuía Manoel de Oliveira Paiva uma vocação em flor, sujeita, sem dúvida,  ao fluxo do ambiente para êle desconhecido, aos incidentes imprevisíveis.  Sua mãe, Maria Isabel de Paiva Oliveira, e sua avó materna, Ana Joaquina de Castro Paiva, entregues a uma fervorosa mas consciente devoção, deviam sentir-se revigoradas, na sua pobreza, por essa vocação começada.

Meu tio Manoel de Oliveira Paiva era um menino talentoso, porém irrequieto e altivo.  Afirma-se que os colegas mais rudes ou negligentes nos estudos sentiam-se com ciumes e inveja pelas boas notas que êle obtinha constantemente.  O Reitor cada vez se totrnava mais doente, pela marcha da moléstia, pelos trabalhos e preocupações.  Surgiu então, naquele abarracamento que servia de edifício para aulas e hospedagem, uma acusação surda contra a honestidade de Manoel de Oliveira Paiva, dizem que a propósito do furto de uma ave do quintal ou de outra coisa.  Chamado o acusado, obtidas testemunhas às quais foi dado crédito porque por parte dele apenas se defendeu com a sua ingênua boa fé, o Reitor, padre Enrile,, nada se apresentando a seu favor, e afim de manter a moralidade e disciplina do estabelecimento e talvez mais contribuindo para isso seu estado de saúde, quis aplicar ao menino uma punição exemplar, recusando-se porém Oliveira Paiva a estender-lhe a mão, alegando estar inocente.   Excitou-se o ânimo do austero Reitor, que exilou, ato contínuo, o aluno para uma choupana que ficava no fim do sítio do Seminário em construção.  Em meu tio desapareceu a reflexão que poderia ter na idade que contava, num meio hostil, que não tinha até então sido o seu habitat, longe dos seus, que teriam podido intervir imediatamente.  Revoltou-se como pode, tornou-se irritado,compondo uma marcha cheia de dignidade e rebeldia infantil:  

"Quando vim da minha terra
Não foi para ser soldado:  
Foi p'ra ser seminarista 
E não p'ra ser maltratado!"

CÔRO:
"Alerta, alerta, alerta, estou alerta!"

"Tive pai e tenho mãe
Que me deram educação:
Pertenço a nobre família,
Brasileiro de nação!"

Havia outras cópias, cuja memória se perdeu.
Um parente,  Comandante do Destacamento de Polícia, soube do estado de abandono e de desespero em que se encontrava meu tio, e, na impossibilidade de poder este continuar no Seminário, agora com sua própria repulsa e revolta , tratou de fazê-lo regressar  a Fortaleza, tendo assim início o seu desajustamento com o futuro que para êle idealizara minha avó, que via fugir sua esperança de ver um filho sacerdote, mal começára os seus estudos no longínquo Seminário do Crato.
Por J. Paiva
...continua...

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NOTAS:
1- Em todos os capítulos da biografia de Manoel de Oliveira Paiva, aqui postados, venho mantendo a forma ortográfica original de 1952, quando publicado no jornal "O NORDESTE";

2- As imagens ilustrativas, que antecedem ao texto biográfico, de autoria de J. Paiva (meu pai), tem a intenção de oferecer, ao leitor, um pouco do cenário do Crato, sua religiosidade, cultura, sua gente...;

3- " Uma vocação em disponibilidade" é o sub-título do próximo capítulo da biografia de Manoel de Oliveira Paiva.

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Até a próxima semana.................um abraço!


quarta-feira, 20 de junho de 2012

O NORDESTE, TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (X)
No Seminário do Crato
J. Paiva
Mapa do Ceará, dividido em Regiões. No extremo Sul, temos a
Região do Cariri, onde  o município do Crato está inserido, distante
da capital, Fortaleza, 567 Km. Lá existe, numa bela edificação,
 como visto na postagem anterior, o SEMINÁRIO DO CRATO.
(Imagem do google) 
Nesta imagem, temos o mapa do Ceará, com o nome de seus 
principais municípios onde é mostrado os estados límítrofes a ele, 
no Nordeste Brasileiro, mais o Oceano Atlântico.(Wikipédia).
Este Álbum, foi elaborado quando do Centenário de Criação do
Seminário do Crato (1875-1925). Na contra-capa do mesmo, lê-se
 a homenagem feita ao Primeiro Bispo do Ceará, DOM LUIS Antônio
dos Santos e ao Primeiro Reitor do Seminário, PADRE  ENRILE- 
(Lourenço Antônio Enrile)... (Fonte: blog Caricaturas).  


Padre José Joaquim de Senna Freitas(1840-1913) insigne polemista,
Orador Sacro. Estátua localizada na cidade de Ponta Delgada, Açores.
(Foto : José Ilídio)
O padre José Joaquim de Senna Freitas, nasceu na Ilha de São
Miguel, veio para o Brasil, integrando a Congregação da Missão,
Lazarista que era, percorrendo o sertão cearense, a convite de
 Dom Luis, vindo a falecer, no Rio de Janeiro, no Convento do Carmo,
   que é visto na foto acima, ao fundo, ao lado da Igreja de N. S.do Carmo,
  antiga Sé.    Em primeiro plano,vê-se a Igreja da Ordem  Terceira
do Carmo. (Foto de 1870, do blog Literatura & Rio de Janeiro). 
Rio Canindé, no município de Canindé, no Sertão Central do 
Ceará, distante 110 km de Fortaleza, onde esteve em Missão  
 " o primoroso e valente escritor luso"  (....) "o gigante do púlpito
e da pena", padre José Joaquim Senna Freitas.
(Foto; site História de Canindé)
Igreja das Dores, que foi Matriz de Canindé, quando da reforma
do Santuário de São Francisco das Chagas. (Wikipédia0
Basílica de Canindé- Santuário de São Francisco das Chagas.
(Wikipédia)
Ao lado esquerdo da Igreja do Patrocínio, em  Fortaleza,  a bela
edificação da Fenix Caixeiral, onde havia uma das melhores Bibliotecas 
que uma Sociedade de Classe possuia. Nela, J. Paiva foi professor de 
Francês e Bibliotecário, na década de 1920.. Ali, formou-se Guarda- Livros
(nomenclatura antiga do hoje Contabilista), ( Foto: Arquivo Nirez) 
Primeiro Reitor do Seminário do Crato,
Padre Lourenço Vicente ENRILE.
(Foto: blog Caricaturas)




Minhas tias Ana (Irmã Paulina na Congregação), Maria (Irmã Clotilde) e Jacinta (Irmã Isabel), foram das mais antigas postulantes do Ceará, entre 1875 e 1879. Talvez seu irmão Manoel de Oliveira Paiva, tivesse sido um dos 208 sacerdotes ordenados por Dom Luiz Antônio dos Santos, e quiçá se filiasse à Congregação da Missão, se  lhe não sobrevivesse o grave incidente que vamos narrar, algo de drama ou epopéia no fundo de uma Província, há 77 anos!


Se a abertura do Seminário de Fortaleza, a 18 de outubro de de 1864, tinha sido um tentame hercúleo e uma vitória sobre-humana do 1º Bispo do Ceará, a do Seminário do Crato foi uma perfeita odisséia.  Por alí haviam passado os Missionários Lazaristas padres Guilherme Van den Sant e  José Joaquim  de Senna Freitas, um alemão do de Munster e outro português da Ilha de São Miguel, percorrendo os sertões cearenses a convite do Sr. Bispo.  Ao falecer em 21 de dezembro de 1913, no Convento do Carmo, do Rio de Janeiro, o primoroso e valente escritor luso, que converteria tantas almas, cultivara as letras e rebatera, em acêsas  campanhas, as insídias contra a  Igreja Católica, velho doente e ignorado, encontrou-se em sua secretária, como que ainda quente de seus últimos alentos, uma "História de Minha Vida", que "O Nordeste" publicou em folhetins no ano de 1827. Parara, para morres, o gigante do púlpito e da pena, quando vinha narrando sua festiva entrada em Canindé, em 1870, acompanhado de seu colega de Missão.  Lembro-me de ter lido nã sei se uma ou mais prédica sua nas Missões do Ceará, impressa em seu livro  em 2 tomos " No Presbítero e no Templo".  Cito só da lembrança que me ficou do tempo da "Fenix Caixeiral" , em cuja Biblioteca, que foi  há anos a melhor que uma sociedade de classe poderia possuir em Fortaleza, deve ainda encontrar-se essa preciosa obra, hoje esgotada.


Os dois Missionários, cujas demoradas  pregações pelo interior da Província, resultaram em proveitosa colheita espiritual, tendo chegado em 1872 ao Carirí, auscultaram da população o desejo de possuirem um estabelecimento de formação da Juventude Masculina, obtiveram alguns donativos com essa finalidade, e comunicaram a Dom Luis a solicitação generalizada.
Sabemos pela crônica eclesiástica, o quanto custou ao nosso santo primeiro Prelado a edificação do Seminário de São José do Crato, para onde enviou o padre Enrile que com o padre Chevalier, se achavam em Fortaleza. Sentia-se o sacerdote, doente, a conselho médico, para o Crato, a 31 de maio de 1874, combinando a possibilidade de seu restabelecimento com a necessidade de pôr-se à frente da Obra empreendida. O próprio Dom Luis, em visita pastoral, reconhecera a oportunidade inadiável de concluir a construção e abrir os cursos, alí chegando a a 31 de dezembro do mesmo ano, demorando-se a té março de 1875, quando foi aberto o Seminário, começando a funcionar, provisoriamente, em pavilhões cobertos de palha...
Por J. Paiva
...continua...


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NOTAS:
1- Aos que aqui "sentam-se" pela primeira vez, devo dizer que mantive o texto de J. Paiva (José Joaquim de Oliveira Paiva, meu pai) na sua forma ortográfica original, de quando foi publicado no jornal O NORDESTE, no ano de 1952;


2- As imagens que antecedem ao texto, com legendas abaixo em cada uma delas, servem de roteiro explicativo, com o objetivo de "inserir" o
leitor no ambiente da narrativa, seja em Fortaleza ou em outras paragens...;


3- O Capítulo XI, terá o desfecho dos acontecimentos, envolvendo Manoel de Oliveira Paiva "No Seminário do Crato"...
A partir do Capítulo XII, virão alguns capítulos com o sub-título "Uma vocação em disponibilidade".
Continuem acompanhando...


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Até a próxima semana................Um abraço!


quarta-feira, 13 de junho de 2012

O NORDESTE, SEGUNDA-FEIRA, 26 de MAIO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA ( IX)
No Seminário do Crato
J. Paiva
Rafael Sânzio de Azevedo (1938), professor, poeta, ficcionista, crítico
literário, e ensaísta brasileiro, o autor desta obra, tem profundo 
conhecimento sobre a Padaria Espiritual, um dos mais importantes
 movimentos literários do final do século XIX, no Ceará,
quiçá do Brasil.  (Imagem do site  da Editora UFC)
Antônio Sales ( 1868, Paracuru(CE)- 1940, Fortaleza), fundador
da Padaria Espiritual, guardião dos originais de Dona Guidinha
do Poço, entregue pela viúva de Oliveira Paiva, após a sua morte,
em setembro de 1892, e que veio a ser editado em 1952...
Membros da Padaria Espiritual, um movimento literário que teve
  início em julho de 1892. Na foto identifica-se Antônio Sales , seu
criador ,à esquerda de quem olha , no centro, junto à mesa...
Os chamados "padeiros" que produziam o jornal "O Pão", costumavam
encontrar-se no Café Java (foto) , localizado na Praça do Ferreira, no
centro comercial da Fortaleza antiga....(Foto: blog Fortaleza Antiga).
Esta bela edificação, no estilo neoclássico,  abriga hoje o Museu do 
Ceará. Nele, já funcionou a Assembleia Provincial, a Faculdade
de Direito,a Biblioteca Pública.... ( Arquivo Nirez)
Irmãs de Caridade, com hábitos" à moda" dos  trajes das primeiras 
Filhas de São Vicente de Paulo que chegaram à Fortaleza em 1865.
 (Foto: Google)
Colégio da Imaculada Conceição, com a bela Igreja do Pequeno,
em estilo néo-gótico.,que foi inaugurada em 1903.  
(Foto: Arquivo Nirez).
O Seminário da Prainha junto à Igreja de N. S. da Conceição,
que teve, como 1º Reitor, o Lazarista Pe. Pedro Augusto Chevalier.
Igreja de N. S. da Conceição da Prainha, anexa ao Seminário da
da Prainha, no antigo bairro do Outeiro, e Fortaleza-Ceará, em
foto atual ( Foto: Panorâmio).
Seminário do Crato, já com toda a sua estrutura, bem diferente  do
barracão de quando da chegada dos primeiros alunos.Manoel de
Oliveira Paiva fazia parte do primeiro grupo e era o único aluno/
seminarista da capital, Fortaleza. Os demais alunos, eram de 
cidades do interior de vários estados do Nordeste. 
(Fonte: O livro Recordando a História do  Seminário
 Episcopal do Crato e do Colégio Diocesano
São José, de Antônio Marchet Callou, UFC- 1998)
Foto atual do Seminário do Crato , localizado no Bairro Seminário,
na cidade do Crato, na Região do Cariri -Ceará-Nordeste-Brasil..
( Foto; Wikipédia)





Na poliantéia que a Padaria Espiritual publicou, a 9 de outubro de 1892, com o retrato de página inteira de Manoel de Oliveira Paiva, referia-se Antônio Sales, seu amigo íntimo e colega de lides intelectuais, à sua curta passagem pelo Seminário do Crato: "Depois de cursar  a aula primária, foi para o Crato, entrando para o Seminário, que lá existiu".  _Tinha eu em casa um exemplar todo dilacerado, diluindo-se, dessa edição-homenagem, cujo conteúdo copiei, aos 13 anos incompletos, numa brochura, terminando o paciente trabalho, para  a idade, a 9 de agôsto de 1908, tão grande era minha admiração por esse tio, cuja fotografia a crayon  já desde algum tempo  observava na Recebedoria do Estado, onde trabalhou êle algum tempo, bem como meu pai, José Joaquim de Paiva, seu tio materno e posteriormente casado com sua irmã, Rosa, minha mãe. Esse retrato encontra-se hoje no Museu Histórico de Fortaleza.


Se a Missão do padre Antônio Onoratti, com outros jesuítas, através de várias Províncias do Norte, cuja data exata não podemos precisar sem consultar outras fontes, mas que devia ter sido entre 1874 e 1875, antes do seu regresso à Europa, a 18 de abril, dêste último ano, quando do triste êxodo repetido do tempo de Pombal, após o forçado fechamento do Colégio São Francisco Xavier, do Recife, no tempo da Questão Religiosa, muito influiria no espírito de devoção do nosso povo, com isso bastante aproveitando a família Paiva Oliveira ou Oliveira Paiva, como futuramente lhe fixaria o nome o meu tio: a vida dos Padres Lazaristas e das Irmãs de Caridade fez não só aumentar o número de vocações sacerdotais no Ceará, consolidando-as sôbre bases já não tanto impostas pela vaidade ou pelo interesse de famílias que, por um ou pelo outro motivo, desejavam ter um filho  na Igreja., como iniciar a série ininterrupta  de vocações religiosas femininas, de início tão somente entre as Filhas de São Vicente de Paulo e, com o decurso do tempo, dirigidas para outras Comunidades Religiosas já existentes ou posteriormente fundadas.   A instrução, educação e preservação de meninas e moças das diversas classes e profissões, o preparo intelectual e formação moral de levas consecutivas de rapazes que não entraram no sacerdócio, e a assistência aos pobres foram frutos abençoados da colaboração dos padres e irmãs, coadjuvados por governos e particulares.


Os padres lazaristas aqui aportados foram Pedro Augusto Chevalier e Lourenço Vicente Enrille, um francês e o outro italiano, a 18 de novembro de 1864;  tendo chegado as sete primeiras Filhas de São Vicente a 24 de julho de 1865.  Aos Padres da Missão foi entregue por Dom Luis a Direção do Seminário de Fortaleza, que fora aberto no dia 18 de outubro anterior ;  e às Irmãs de Caridade, no dia seguinte ao de sua chegada, as primícias do Colégio e Orfanato, transformados dentro de pouco tempo no magnífico Colégio da Imaculada Conceição.


Chamaremos para êste capítulo as notas supra e vamos corroborar com outras, porque muito tiveram que influir sôbre a nossa espiritualidade, desde os mais velhos.  Os nomes do padre Chevalier ( o popular Mon Père), primeiro Reitor do Seminário de Fortaleza, a cujo enterrro-apoteose ainda me lembro ter assistido, aos 5 anos incompletos, do alto do paredão da velha Catedral  demolida, na tarde de 17 de julho de 1900, uma verdadeira procissão religiosa estendida desde a igreja da Prainha até a Praça da Sé;  Bertrad Prat e Afonso Ferrigno e venerados como profundos diretores de consciência e homens de virtudes e caridade apostólica. E, entre as Irmãs de Caridade, Margarida Bazet e Luisa Gagné, verdadeiros anjos para os nossos reservando-nos ainda para falar acêrca desta última a propósito de Manoel de Oliveira Paiva.
Durante reduzido mas abençoado tempo, o "Manezinho" e o "Joãozinho" (Manoel e João de Oliveira Paiva) foram os meninos hábeis e prestantes que auxiliaram  as solícitas Filhas de São Vicente de Paulo na armação da Fruta de Lourdes, de cenários e e ingênuos ou heróicos dramas em que Irmã Gagné era mestra, e até mesmo nos passeios próximos durante as férias escolares...
Por J. Paiva
...continua...


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NOTAS:
1- Como nos capítulos anteriores, devo assinalar que o texto de J. Paiva, tratando da vida de Oliveira Paiva está fiel ao original, que fora publicado no jornal O NORDESTE, no ano de 1952;

2- Em todos os capítulos, aqui transcritos, antecede-lhes uma espécie de "roteiro ilustrativo" que tem a intenção de "mergulhar" o leitor no ambiente em que viveu Manoel de Oliveira Paiva, antes da leitura do texto biográfico;

3- Os próximos dois capítulos, X e XI têm como o sub-título, também, "No Seminário do Crato"...

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Retornarei, na semana próxima, um abraço!


quarta-feira, 6 de junho de 2012

O NORDESTE, SEXTA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (VIII)
"Dona Guidinha" no quadro da época
J. Paiva
Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano
Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael 
Gonzaga ( 1825-1891) - Dom Pedro II - ""O Magnânimo" !
Segundo Imperador do Brasil. Reinado: 7 de abril de 1831 a 
15 de Novembro de 1889. Nesta foto, com 44 anos de idade
 em seu uniforme de  Almirante.(Wikipédia).
Última foto da Família Imperial, no Brasil - 1889.
Foto tirada  na residência de Petrópolis-Rio de Janeiro
(Wikipédia)
Primeira edificação da Casa da Moeda. Hoje, abrigando o 
Arquivo Nacional, na cidade do Rio de Janeiro (Wikipédia)
"A Deusa República vinha de fora, importada da França, com
seu barrete frígio" (citação de J. Paiva). Imagem: A Liberdade
   guiando o Povo, de Eugène  Delacroix. (Wikipédia).
Rio Branco, Visconde do Rio Branco, José
Maria da Silva Paranhos(1819-1880). 1º Presidente do
Conselho de Ministros, no reinado de Dom Pedro II.(Wikipédia).
João Alfredo Correia de Oliveira (1835-1915)
João Alfredo foi, também, Presidente do Conselho 
de Ministros , no segundo reinado. .(Wikipédia).
Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1819).
Foi do Conselho de Ministro. Presidente do Brasil,  de
1902 a 1906. (Wikipédia)
 Afonso Augusto Moreira Pena(1847-1909).Conselheiro
no reinado de Dom Pedro II. Tornou-se o 6º Presidente do
Brasil ,de 1906 a 1909, quando faleceu.  (Wikipédia).
Foto tirada no dia da Proclamação da República, em 15 de
Novembro de 1889, com oficiais do Colégio Militar do Rio de
Janeiro, onde estudara Manoel de Oliveira Paiva, na década anterior.
(Foto: site Novo Milênio)  
Manoel de Oliveira Paiva (1861-1892), em seu
seu uniforme de Cadete da Escola Militar do Rio
de Janeiro, depois de deixar o Seminário do Crato,
no interior do Ceará. (Arquivo da Lúcia).





Podemos afirmar que Oliveira Paiva jamais procurou glória literária, antes foi jornalista, poeta e romancista, sem vaidade nem ambição, por pendor inato de Artista; mas que devia ter guardado em seu espírito, ainda tão jovem e contudo tão atribulado pelo desânimo provocado pela doença, um desassossêgo causado pelo abandono tempestuoso do Seminário do Crato, episódio que vamos narrar no Capítulo seguinte, mas que não é conhecido não só nas suas minudências como talvez  nas suas linhas mais simples, pois é pela primeira vez que vai narrado como realmente se deu, visto não ter sido um fato comum porém um gesto de altivez que no entanto alterou seu caminho para o futuro, daí em diante sem rumo certo. Vamos pois, narrar agora esse incidente que sempre ecoou no nosso espírito como um brado de revolta, um assomo de talvez mal compreendida dignidade, sem a prévia intenção de desobediência e insubmissão, no que se introduziu uma tendência impulsiva da família para soluções violentas, para antes quebrar que torcer...


Mas completemos  o quadro da época do romance, na parte política e social. As lutas entre os dois partidos, conservador e liberal, as quais já vinham perdendo o caráter apaixonado que ainda havia pouco  se demonstrava pelo derramamento de sangue, para se tornarem medíocres, interesseiras e como que caducas já para velhice do magnânimo Dom Pedro II e do glorioso Império, que temos nós, com mais de 62 anos de República, a lhes antepor?
Governa-se melhor hoje com tantos partidos sem seguras diretrizes que amparem a Nação, as Classes Conservadoras e os Trabalhadores?


Quando Manoel de Oliveira Paiva escreveu o seu romance, em 1891,  supõe-se, as efigies dos soberanos que haviam dado substância própria à alma brasileira, que criaram sua configuração moral, sua personalidade internacional admirada pelas grandes Potências, a Casa da Moeda fê-las substituir por um ente feminino fictício. A deusa República vinha de fóra, importada da França com o seu barrete frígio. Porém o Império, que se constituíra sobre  uma sociedade colonial que quase não precisou modificar-se, felizmente, quando deixámos de ser portugueses para nos tornarmos brasileiros, apesar dêsse jôgo quase infantil entre conservadores e liberais nos deu as imensas e indeléveis figuras de estadistas  educados por êsses mesmos partidos, a quem Dom Pedro II honrou com a Nobreza ou o título de Conselheiros do Império, de cuja cultura, clarividênia e honestidade a República teve que se servir como seus tutores: Rio Branco, João Alfredo, Rodrigues Alves, Afonso Pena, etc. etc.


Naquela sociedade de famílias opulentas, com suas fazendas e seus escravos, Manoel de Oliveira Paiva, em meio à palavra e ao mobiliário,, apontou-nos, há 60 anos para mais, senhoras laboriosas e magnânimas como essa Dona Guidinha do Poço da Moita, cujo duplo crime, que não era próprio de nossa gente, precisou ser moldado em romances de Civilizações decadentes, Oliveira Paiva, na crítica mordaz da política do Império, influenciada pelas mulheres aos pequenos burgos, vivia sob o encantamento do sol de 1889.
Hoje, lendo-o, voltamo-nos para o tempo que êle tinha muito mais perto de si, e que evocou na ficção, lamentando sua morte tão precoce, que privou a literatura nacional de levar avante essa escóla que êle começára a criar...


Assim, antes de passar adiante, julgando ter colocado o romance de Manoel de Oliveira Paiva no quadro sócio-político-religioso de 1850, dando-se essa data como ponto central.
Por J. Paiva
...continua...


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NOTAS:
1- Como nos capítulos anteriores, a transcrição do texto biográfico de J. Paiva está, ortograficamente, conforme o original que foi publicado no jornal O NORDESTE, de Fortaleza, em 1952;

2- As fotos com legendas, que antecedem ao texto biográfico, têm o intuito de oferecer ao leitor personagens, locais e/ou  fatos, citados pelo autor, em seu texto;

3- O Capítulo IX , o próximo, tem, como sub-título, "No Seminário do Crato" .

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Até a próxima semana............Um abraço!