sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MANUEL DE OLIVEIRA PAIVA (1861-1892)...

...MEU TIO-AVÔ PATERNO:
romancista, poeta, contista...
Manoel de Oliveira Paiva (1861-1892), em seu
uniforme de Cadete, da Escola Militar do Rio de Janeiro,
provavelmente por volta de 1878...(Foto: arquivo próprio).
João Francisco de Oliveira, pai do Escritor...
(Foto: arquivo próprio)
Maria Isabel de Paiva Oliveira, com sua
neta Jacinta, ao colo...Mãe e filha de
Manuel de Oliveira Paiva.
(Foto: arquivo próprio)

Quem é leitor "cativo" deste blog, já conhece esses  
personagens da (minha) vida real, cujas fotos estão expostas acima...Em postagens anteriores os descrevo, em detalhes, e mostro o  meu grau de parentesco com todos eles. Nessa publicação, trarei a relação nominal da "OBRA COMPLETA  DE OLIVEIRA PAIVA" e, apenas, um de seus CONTOS - "O ódio" . Sua biografia, para quem se interessar em conhecer esse escritor cearense, poderá ser encontrada na WIKIPÉDIA. Toda a sua obra - Romances, Contos e Poesias - está, integralmente, na Wikisource (internet)...com  a exceção de uma peça teatral, "Tal filha, tal esposa"...que ficou inédita, junto a outros poemas e contos...Perderam-se, no tempo...


Obra completa, de  Oliveira Paiva...


CONTOS:
* A barata e a vela (1887)
* A melhor cartada (1887)
* Corda sensível (1887)
* O Ar do vento (1887)
* O Ódio (1887)
* Pobre Moisés que não foste(1887)
* Variação sobre um tema de Buffon (1887)
* De pena atrás da orelha (1888)
* De preto e vermelho (1888)
* A paixão (1888)
* Ao cair da tarde  


ROMANCES:
* A Afilhada (1889)
* Dona Guidinha do Poço (1891)


POESIAS:
Nota de Oliveira Paiva para A tacha maldita:
Escutem...
Este livro é um tributo de homenagem que a LIBERTADORA ESTUDANTIL frente a PROMOTORA DA INSTRUÇÃO DOS LIBERTOS e à  LIBERTADORA CEARENSE. A esta porque libertou o escravo, àquela  porque instruiu o liberto. Seja. Obedecemos, apenas, a nós mesmos. Sejam porém sinceros com
M. DE OLIVEIRA PAIVA.
NOTA MINHA (Lúcia Paiva):
Vejam...
Manuel de Oliveira Paiva, meu tio-avô paterno, foi dos mais atuantes ABOLICIONISTAS CEARENSES...


* A tacha maldita  - subdividido em: 
. Primo
. Secundo
. Tertio
. Quarto
. Quinto
. Sexto
. Sétimo
. Oitavo
. Nono
. Décimo


* Vinte e cinco de março
   O Sono
   . O séquito
   . Sepultação
   . Memoração


   A visão 
   . A Ilha da Quimera
   . Pátria


* Sons de viola
 . Na feira
 . Quem pode, pode, bem-te-vi!
 . As ninhas cantigas
 . Na beira do lago
 . Gente alegre
 . O meu coração
 . Tua alma em flores
 . À tardinha
 . Uma paisagem
 . Bandos tristes
 . Vida!


* Aos 55
   . Poesia publicada originalmente no jornal O Libertador, de Fortaleza, em 1884
     . Deputados  gerais negreiros que negaram mensão honrosa à província do Amazonas
(Fonte: Wikisource)


Nesta foto, estão alguns membros da Sociedade Libertadora Cearense. 
Manuel de Oliveira Paiva  é o 1º sentado, à esquerda de quem olha.
Na fila em pé, o 3º da direita para a esquerda é Antônio Bezerra de Menezes 
(historiador, poeta, escritor...)meu tio-avô materno. No século XX, em 1932, 
as famílias Oliveira Paiva e Bezerra de Menezes (em Fortaleza-Ceará), se
 "uniriam", com o casamento de meu pai (José Joaquim de Oliveira Paiva)
com a minha mãe (Maria José Bezerra de Menezes). Meu pai era sobrinho
materno do Abolicionista Manuel de Oliveira Paiva; minha minha era 
sobrinha paterna do, também, Abolicionista Antonio Bezerra de Menezes.
(Foto: Arquivo próprio)

Desenho de um "Navio Negreiro". Desconheço a sua autoria.
(Imagem do google). Apenas, pra ilustrar o conto "O Ódio" ,de
Manuel de Oliveira Paiva.

O ÓDIO
(por Manuel de Oliveira Paiva)


Junto à amurada engoiava-se uma gaiola de paus, como um pêndulo, sombras de velas e cordagens iam e vinham vagarosamente ao bel prazer  da flutuação.
Rondava dentro da jaula um gato maior que um cachorro grande. Perto, quando clareava, reluzia o olhar de um negro, acocorado no sopé do mastro, com as mãos cruzadas abraçando os joelhos.
Via-se bem o animal preso, movendo-se com pés de seda e garbo de mulher.
Passeava desdenhosamente. Amarelo fulvo, lindamente mariscado com patacos pretos, como não há veludo.
Quando alguém aproximava-se, a fera largava uma roncaria por entre presas, e dava botes aos pares, explodindo bufidos espantosos.
O comandante muitas vezes desanuviava a sua cerveja fazendo-se  espectador da eterna aversão e tolhido orgulho do bicho feroz, de cujo cativeiro abusavam; faziam-se trejeitos, cutucavam com um bastão, davam-lhe um pau para morder, de modos que o animal parecia chorar de raiva.
O piloto, muito chalação, desandava-se descompostura:
-  Anda lá marafona! Pensavas qu'isto qu'era furna? Olha que ela pega-o comandante!
E daí, amabilizava com uns nomes feios - filha desta, filha daquela, como se fosse entre duas pessoas:
-  Eu não lhe tenho medo, porque lá arrebentar esse nicho é o que ela não pilha.
Nessa noite, o negro notou um lume que boiava no escuro do oceano, como um pirilampo; o seu pensamento, que por uma simpatia de gênios e de condição costumava ater-se à onça presa, apegava-se agora a esse nonada fosforescente.
Muito depois, o foguinho crescia, e o negro foi obrigado de ao pé do mastro, por via das manobras de bordo. O diabo do lume tinha coisa: o navio evitava-o como se estivesse cheio de pólvora e essa tocha distante fosse uma faísca a perseguí-lo perversamente.
O negro, sentindo que havia um perigo qualquer volveu de novo o pensamento para o tigre. Antegustava  uma satisfação feroz, prevendo um belo horror de destruições. Apertavam as vozes de comando, e o mestre enfurecia - quisera ter os punhos do mundo inteiro para torcer o rumo do vento! Era uma vela meter-se onde eles queriam e bambeavam com os paroxismos de um sossobrante. Havia um demo no espaço negro a embirrar com o barco.
O comandante e oficiais ainda estavam bêbedos da orgia que tiveram ao sair do porto.
O escravo, supersticioso, jurava entre si que que o lume que se aproximava era o espírito maligno, em feitio de macaco, às cabriolas de onda em onda, com uma brasa na boca. Ele via até os ziguezagues na trajetória do farol movediço.
Assombrado pela certeza do perigo, ele descera, e voltou com um machado. No pescoço conservava o seu amuleto. Estava armado para o desconhecido. Fazia muito frio. começou a espalhar-se um medo, insinuativo no meio da treva, e mais tarde o pavor.
De repente a luzinha estava mesmo em cima deles, emaranhada no porte alevantado de um paquete a vapor.
Um estremenção prolongado, como um desabamento, saiu do navio todo, que reagiu nas ínfimas veiaduras do cavername. O pessoal ficou um instante bestializado. E, depois, como um bando turvo de vampiros no seu voar frouxo e mortuário, saia de todos os poros a idéia de morte., O vapor, cujo era o farol fatídico, havia metido a pique o barco, e talvez tivesse também sossobrado, matando-se sem reconhecer-se, arrastados pelo demônio das colisões marítimas, um daqueles que ao cair do céu ficaram nos ares prestando ao gênero humano o relevante serviço de fazer-lhe o mal.
O negro levou as mãos à cabeça. Sob a noite estrelada, ele via  os borbolhões  do horrendo por toda parte. Escaleres ao mar, salva-vidas, aconchego de desespero dos que se amam, considerações para os delicados, heroísmo dos fortes, num rápido.
Dele não se lembravam. A noite de sua pele casava com a do espaço entremeadas pela de sua vida. Sua alma hostil armara-o de machado, porque ele, desde menino, ouvia falar de corso e de piratas. Isto sim, lhe seria um triunfo. Entanto, restava-lhe boiar, e ainda se fosse possível. Não podia prestar serviços, porque ninguém se entendia, assim nas goelas da morte. E achando-se de braços cruzados, sobre o abismo, ele, o forte, o valentão, o calmo, o herói, o hércules. No véu das sombras viu bruxulear os olhos do tigre. Ah! e a fera não teria direito ao salvamento? A desordem a bordo era insuportável. Um salve-se quem-puder! E o possante bruto humano ergueu o machado e descarregou um golpe sobre a jaula. Ébrio de sua majestade, arriou novo golpe, e repetiu. A fera recuara para o fundo, e quando viu o rombo que a desagrilhoava, atirou-se...ávida, por beber sangue e doida de fome. Rolaram no convés a onça atacada com o escravo.
O navio empinava para a profundez. Na voragem, a fera retornara à gaiola, que flutuava nas águas, enquanto o cadáver do escravo descia no abismo, talvez com a íntima satisfação de ter libertado uma fera, entre eles perdurando uma certa simpatia de gênios e de condição.
Era ele que tratava do tigre. Amava-lhe o rancor eterno. Achava-o formoso, tão dourado, tão liso, tão forte!
Comprazia-se em matar-lhe a sede e a fome. Amava-o porque o bicho indicava ser insensível ao amor. E foi um grande prazer desaparecer da vida deixando em seu lugar um bruto que era a concretização do ódio, humor necessário à vida social, como o fel à vida individual! 
(1887)


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IMPORTANTE!

1- ABOLIÇÃO NO CEARÁ - A  campanha abolicionista no Ceará ganha a adesão da população pobre. Os jangadeiros encabeçam as mobilizações, negando-se a transportar escravos aos navios que se dirigiam ao sudeste do país. Apoiados pela Sociedade Cearense Libertadora, os "homens do mar" mantêm sua decisão, apesar das fortes pressões governamentais e da ação repressiva da polícia. O movimento é bem sucedido: a Vila do Acarape (CE), atual Redenção, é a primeira a libertar seus escravos, em janeiro de 1883. A escravidão é extinta em todo o território cearense em 25 de março de 1884.

2- A Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil, só seria assinada, pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888.
(Fonte: www.conhecimentosgerais.com.br).


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Agora, estou indo,.................mas eu volto!.................Um abraço!                            

sábado, 18 de fevereiro de 2012

ESTÁ FAZENDO UM ANO...

HOJE, É O 1º NATALÍCIO...
...Da Cadeirinha de Arruar!!!
Obrigada, aos mais de 33 mil acessadores!!!
Obrigada, aos mais de 200 seguidores!!!
OBRIGADA  a todos, pelos incontáveis comentários!
Estamos em pleno CARNAVAL, festa do povo, estamos
também em FESTA, na CADEIRINHA....porquanto,
sem os leitores, CATIVOS ou FORTUITOS, não seria
 possível tanta satisfação, com esses agradáveis  RESULTADOS...
neste maravilhoso "SÁBADO GORDO" ...


...F E L I Z   C A R N A V A L !!!






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     Já estou indo................mas eu volto! ............. BEIJINHOS!!!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

EVA DE OLIVEIRA PAIVA,

MINHA PRIMA POETISA...
Nesta bela edificação funcionou a antiga Faculdade de Farmácia e
Odontologia,do Ceará, onde a Poetisa Eva Paiva graduou-se  Farmacêutica.
Hoje, abriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.(IPHAN).
Localiza-se vizinho ao Theatro José de Alenacar, na praça de mesmo nome...
(Foto: Panoramio)
Eva de Oliveira Paiva(1901- 1989) nasceu em Fortaleza, em um dia 3 de dezembro . Era filha de minha tia-avó paterna, Luiza de Oliveira Paiva (a querida tia Luizinha, do sítio da Cachorra Magra, junto à Lagoa do Tauape) e de meu tio paterno José Joaquim de Castro Paiva(Zeca) seu primo. Meu pai, que era filho do 2º casamento do avô de Eva, também se chamava José Joaquim, como o pai de ambos, nosso avô...Entenda: a mãe de Eva, era irmã de minha avó; o pai de Eva, era irmão de meu pai. É que nosso avô, era tio da mãe de Eva, Luiza, e de minha avó, Rosa, com quem contraiu segundas núpcias...Ou seja: meu pai, era afilhado, cunhado e sobrinho da mãe da poetisa, sendo, portanto, seu primo, pelo lado materno,seu e tio, pelo lado paterno...


É que, "de primeiro", era assim: casavam-se, primos com primas, tios com sobrinhas...causando múltiplos parentescos, entre si...


A instrução primária, da menina Eva, foi ministrada por sua própria mãe, intelectual e professora. Luiza e Rosa eram irmãs, dentre outros, do escritor cearense, Manuel de Oliveira Paiva (1862-1891).
Foi no Liceu Cearense, em Fortaleza, que a futura poetisa cursou humanidades, como aluna avulsa, de 1922 a 1925, ingressando, em 1924, na Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará, onde recebeu o grau de Farmacêutica a 30 de dezembro de 1926, sendo nomeada, em janeiro de 1929, Preparadora da referida Faculdade. No mesmo ano, em outubro, entrou para o Corpo de Técnicos da Saúde Pública, onde exerceu o cargo de farmacêutico-chefe da Secção de Farmácia.


Seus primeiros ensaios poéticos, se deram no órgão  "A idéia" do Liceu Cearense  -  vindo a colaborar com vários jornais de Fortaleza e no Almanaque de Lembranças Luso- Brasileiro.


Ilustrando, a poesia ÁGUA CORRENTE, de
  EVA PAIVA, com uma "cachoeira cearense",
do município de TIANGUÁ - CEARÁ..
(Foto: Panorâmio)
Água Corrente 

Água corrente, água cristalina
Conta do inverno as doces alegrias
Traduz nesse teu canto, as louçanias
Os vendavais da chuva e da neblina


Nesse canto de gama adamantina
Descanta as nênias dessas tardes frias
As brumas das manhãs tão fugidias
Essa tristeza insólita e divina!


Canta esse canto rústico do inverno
As negras noites em que o fevônio tenro 
Gela de frio o coração da gente...


Canta, que eu adoro essa canção das águas
E julgo ouvir gemer as minhas mágoas
E penso que és meu pranto, água corrente!
(Água Corrente: de Eva Paiva)




NOTAS:
1-Fontes: Radiorama (livro de versos); Crítica e referências:Aldo Prado (Os novos do Ceará, no Primeiro Centenário da Independência do Brasil-pp.67a 69); Hélio Caracas("Uma nova poetisa cearense" - Diário do Ceará, 20/04/1922);     site:www.literaturareal.blogspot.com ; 
  
2- Conheci, minha prima Eva Paiva, ainda trabalhando como Farmacêutica, morando com suas irmãs, Ida, Ave e Isa, à Av. dos Expedicionários,em Fortaleza, em frente à murada do 23º BC (23º Batalhões de Caçadores), no aprazível bairro Benfica. 
Das quatro irmãs, filhas da tia Luizinha, a única que casou-se foi a prima Ida (com um primo - Alexandre). As demais, inclusive a poetisa Eva Paiva, permaneceram solteiras. Esse casamento, de Ida com o Alexandre, "rendeu" uma interessante história, que contarei aqui, a qualquer dia desses...(após "licença" da família)...
Tia Luizinha e o tio Zeca, tiveram, além das quatro meninas, seis meninos: Noel,Vicente, Mário, Flávio, Aramis e Athos.
Papai contava que nasceram mais duas crianças do casal, que não sobreviveram, e que  chamar-se-iam Porthos e D'Artagnan...
Na casa dos Paiva, lia-se, também, literatura francesa, notadamente de Alexandre Dumas...
 D'Artagnan e os Três Mosqueteiros ( Porthos, Athos
e Aramis). Imagem: Wikipédia...
Apenas o primo Mário permaneceu solteiro, fazendo companhia à sua mãe, a minha querida tia-avó Luizinha, por toda a sua vida, residindo, os dois, naquele belo casarão do imenso sítio, junto à Lagoa do Tauape...lá pras bandas da Cachorra Magra....no aprazível Benfica...



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Já estou indo>>>>>>mas eu volto<<<<<<<<Um abraço!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

A IMPORTÂNCIA DO TEATRO, PARA A VIDA ...E...

A "PORÇÃO" ATRIZ, de Lúcia Paiva !

Fui uma criança imensamente tímida mas, assim mesmo, sendo eu a irmã mais nova de seis irmãos, sofrendo da parte deles forte influência, fui me "desasnado", como dizia a minha mãe, tornando-me mais solta, mais desinibida, em público. A influência maior, foi de  meu irmão mais velho, José Maria, que tem 10 anos mais do que eu. Tanto ele, quanto os dois que o seguiram, nos nascimentos lá de casa, o José Maurício e o Carlos Alberto, desde garotos passaram a ter grande interesse em cinema, teatro, jornalismo...  
Lembro-me de quando o  mano mais velho, que chamo de Zemaria, junto a  alguns amigos da  nossa "redondeza", e mais os dois outros irmãos, resolviam selecionar "atores" e atrizes" para a representação de alguma peça de teatro que, àquela época, final dos anos 1940, chamava-se  "drama".  Assim, de drama em drama, íamos desenvolvendo os nossos possíveis "talentos" para a "ribalta".
Dos três irmãos homens, o Zemaria tornou-se B. de Paiva (Bezerra de Paiva) e, até hoje é Teatrólogo, às portas de seus 80 anos de idade. O  Maurício, virou  cinéfilo, chegando a assistir 3 a 4 filmes diários nos cinemas do centro de Fortaleza, que eram muitos, pelos anos 1940, 50, 60...O Carlos Alberto, passou a "professar" o Jornalismo,a Publicidade e oTeatro,  com o nome  Carlos Paiva. Das três irmãs, apenas eu, cultivou um pouco mais, até a juventude, a tal "porção" atriz, iniciada na infância, em meio às brincadeiras do "grupo familiar"....

Nosso 1º Teatro, foi  o quintal de nossa casa, na Rua Barão de Aratanha 232 (BA, 232). Era um "Teatro de Variedades" onde, no programa, havia sempre números musicais, danças, poesias e textos dramatizados,sendo  estes em forma de monólogos ou com um elenco de dois ou mais atores e atrizes. O "pano de boca" era uma grande colcha de cama, fornecida por minha mãe, a já bem conhecida Dona Mazé. Dois grandes pregos, martelados em cada lado do muro, seguravam a corda por onde passava a "bela" cortina teatral. Na verdade, eram duas: uma verde e outra vermelha, para se alternar, quando  precisassem de lavagem. Foram muitos, os "espetáculos" na BA 232, com direito à venda de ingressos, retorno de bilheteria e muitos aplausos, aos futuros artistas que subiriam aos Palcos dos Teatros de Fortaleza. Alí, na "BA, 232", estava nascendo um "promissor elenco" para as artes cênicas cearenses: José Humberto, Tarciso Tavares, B. de Paiva, Carlos Paiva, Glice Sales, Marcos Miranda, J. Narbal, Lúcia Paiva...e tantos, tantos mais!!!
Esta rua, que tem seu início bem à frente da Igreja do Sagrado Coração
de Jesús, é a Rua Barão de Aratanha. Nessa foto aparece, apenas, o primeiro
quarteirão. A casa de nº 232, localiza-se dois quarteirão anterior a esse. Por ser
um número par, sabe-se que ela fica do "lado da sombra", ou seja, onde o sol incide
apenas pela manhã. Esta foto, portanto, foi tirada no período da tarde, como se vê no
último prédio, o da esquina com a Av. Duque de Caxias. (Foto: Panorâmio)

Por volta de 1954, o grupo da "BA 232", começou a se dispersar... Alguns, partiram para ouras "plagas", em busca de trabalho e de sucesso. Eu, ficando em Fortaleza, me "inseri" em um grupo dirigido por meu amigo Francisco Falcão (o Chico). Era o ano de 1957. Nessa época, eu já não morava na Rua Barão de Aratanha, mas na Rua Sadanha Marinho, 727, no então Bairro José Bonifácio.Naquele ano, sob a direção do Chico, montamos uma peça infantil, "A Revolta dos Brinquedos", na qual eu interpretava a Bailarina (que era um dos "brinquedos revoltados").  A temporada do espetáculo foi realizada no teatro do Colégio São Rafael, na Av. do Imperador. 
Foto atual do Colégio São Rafael, onde há um teatro, em um desses
blocos.  Não consegui fotografar o teatro, que seria o mais 
importante, para essa matéria e pelo fato de vir a revê-lo.
(Foto: Panoramio) .
Enquanto encenávamos essa peça, passamos a ensaiar  outra, também  infantil: A Onça e o Bode, em que eu interpretava a Onça. Perseguimos e conseguimos, a muito custo, que  o Theatro José de Alencar (TJA)  fosse o palco de estreia. A "sorte" estava conosco : estreiamos, prosseguindo  numa pequena temporada, neste teatro...o mais importante de Fortaleza, pela beleza e pela idade centenária, completada no ano 2010...
Theatro José de Alencar, visto à noite. (Foto: Panoramio)
Parte interna do  do TJA. (Foto: Panoramio)
Visão, de fora, do Balcão Nobre, Frisas e Camarotes...
(Foto: Panoramio)
Bela visão do TJA, em dia de "casa cheia": plateia do térreo, frisas
balcão nobre , camarotes e "torrinha" totalmente lotados. BRAVO!!!
(Foto: Panoramio)
Visão do Balcão Nobre, Frisas e Camorotes, pelo lado interno
(Foto: Panoramio).
Teto do Theatro José de Alencar.Veja mais, sobre esse centenário
teatro, na Wikipédia...(Foto: Wikipédia)
SEM PALAVRAS!!!

Atuei no palco do TJA nas seguintes peças:  "A Onça e o Bode",  "Auto da Compadecida", "O Mártir do Gólgota" e em "Liberdade Liberdade".Não tenho programas e fotos das peças em que atuei. Aliás, guardo comigo  apenas  o programa de uma delas ,uma infantil, que mostrarei ao final deste texto. A "tal" peça infantil, foi encenada em 1969  em um teatro "desconhecido", pelo grande público: o Teatro Anchieta, situado à Rua Gonçalves Lêdo, nº 88, que nos foi cedido, para a temporada, pelos padres Moisés e Campos, da Comunidade Paroquial Cristo Rei.

Pois bem: no início da década de 1960, "encarnei" a personagem "A Compadecida", na peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, com direção do Chico Falcão. (Cadê o Chico???)...A última vez que o vi, foi no Rio de Janeiro..."pelejando" pela vida...
Em período de semana santa, por dois ou três anos consecutivos, "fui" a Virgem Maria, na peça " O Mártir do Gólgota", também na década 1960, dirigida por B. de Paiva (o meu mano Zemaria). No ano de 1967, em pleno regime militar no Brasil (Ditadura), "figurei" na peça "Liberdade, Liberdade" que, no Ceará, por incrível que isso possa parecer, não sofreu "cortes" da censura (milagrosamente!!!).Nessa peça, eu apenas dançava, ao som da música "Estatuto da Gafieira", na voz  gingada de Jorge Veiga... 
Meu parceiro de palco, na gafieira, era o então "apenas" ator, Aderbal Júnior que, anos depois, tornou-se um excelente diretor de teatro e, hoje, "atende" pelo nome  de Aderbal Nunes Freire. Ele "criou asas" e foi para o Rio de Janeiro, como muitos cearenses, inclusive eu, no ano de 1970... Seu sucesso é retumbante, como um dos melhores diretores teatrais brasileiros...

Depois de Liberdade, Liberdade, desempenhei uma "mulher de Lorca" na peça Bodas de Sangue. Acredito que esse tenha sido meu melhor papel  no teatro. Nele, tive a chance de fazer um DRAMA de verdade, aliás uma TRAGÉDIA, além de me "revelar" "CANTRIZ", ao entoar uma bela canção de ninar. Ao ponto de o maestro, que dirigia a parte musical(Orlando Leite), me aconselhar a estudar canto, por ter "descoberto", em mim, uma voz rara de contralto.  Mas eu "perdi o bonde" do bel canto....não fui me aperfeiçoar,nem no teatro, nem na música... lamentavelmente!!!
Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno - da  Universidade
Federal do Ceará- UFC. (Foto do ICA- Instituto de Cultura e
Arte - da UFC)
Palco e plateia do Teatro Paschoal Carlos Magno, da UFC.
(Foto: Acervo do Arquivo ICA-UFC)
Bodas de Sangue, teve a sua temporada no Teatro Universitário, da Universidade Federal do Ceará. Hoje, esse teatro leva o nome do grande Paschoal Carlos Magno...criador do Teatro do Estudante, e do Teatro Duse, no Rio de Janeiro...dentre outros colossos....
Poeta, Romancista, Dramaturgo, Embaixador,
Paschoal Carlos Magno (1906-1980), a quem
tive a  HONRA de" ter" na plateia, na estreia da
peça "BODAS DE SANGUE", no teatro que hoje
leva o seu nome...(Foto: Acervo do Arquivo da
Família Carlos Magno - Rio de Janeiro) 
Depois da temporada de Bodas de Sangue, com a presença de Paschoal Carlos Magno, na estreia da peça, dirigida por B. de Paiva, em Fortaleza, o elenco do Teatro Universitário foi ao Rio de Janeiro,  participar do Festival de Teatro do Estudante apresentando-se, "hors concours" , no Teatro Glauce Rocha...
Teatro Glauce Rocha, no edifício da FUNARTE, na
Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro.
(Foto: acervo  FUNARTE)
Palco do Teatro Glauce Rocha (Foto: Acervo FUNARTE)...

Certa vez, vindo eu de férias para Fortaleza,  já então residindo no Rio de Janeiro, onde permaneci 25 anos, recebi um convite "desafiador" do diretor da "Comédia Cearense", Haroldo Serra, para ir, em turnê, até ao Cariri - Juazeiro, Crato e Barbalha -  substituindo a atriz principal, no papel de Madalena, na peça "O Morro do Ouro"....Aceitei o desafio, decorei o texto e  lá fomos, rumo ao Cariri, levando a peça de Eduardo Campos, em curtíssima temporada: uma noite, em cada cidade - sexta feira no Crato, sábado  em Juazeiro e domingo em Barbalha. Valeu, a EXPERIÊNCIA!!!

No  meu "currículo teatral" , a peça  que mais deixou-me saudades foi a infantil "Crack, Bang, Flash". Este título, seria a onomatopeia dos sons produzidos, num ato de violência física, por indivíduos aos socos recíprocos... digamos assim!!!...Essa peça, foi escrita por meu irmão Carlos Paiva,"inspirada" em histórias de quadrinho da época: década de 1960. A temporada dessa peça foi EXCEPCIONAL, com "casa" sempre cheia, aos sábados e domingos,no Teatro Anchieta, na Rua Gonçalves Ledo, 88, no bairro Aldeota. No espetáculo,, eu fazia um personagem menino - o Super Baby. Era tal, o "sucesso", que fui convidada, pelo publicitário Tarciso Tavares( o querido TT - amigo desde a BA 232, que morava na casade nº 200 da BA...), para fazer uma propaganda da loja Ocapana, de roupas infantis, "ao vivo", em preto e branco, na TV CEARÁ. 
Eu, "travestida" de Super Baby, falava  o texto da propaganda e, ao final, fazia uma "chamada", para a garotada de Fortaleza ir assistir à peça. Valeu-me um bom "cachê". Como disse acima, o programa da peça infantil "Crak, Bang Flash", foi o único que me restou. Guardo--o com carinho... Ao menos isso, assim poderei "comprovar" que, realmente, em algum tempo do passado, fui atriz de teatro...
Eis, o programa! Atentem para um
detalhe: o personagem Bil Quadrinho,
que que forçava os seus comandados a
serem MAUS, sentado em uma PRIVADA,
lendo história em quadrinho, se preparando
para as maldades.O desenho, é do artista
plástico e escritor, AUDIFAX RIOS, grande 
colaborador do CARLOS PAIVA(de saudosa memória, 
ator,autor diretor da peça "CRAK, BANG FLASH"...

Este é o "verso" do programa,
com apenas uma folha. O texto
é de Carlos Paiva, que dirigiu e
atuou na peça.Confira meu
nome, no ELENCO....acima!!!
Pensando bem, até que a minha "porção" atriz não foi tão pequena assim.... Apenas, o "acervo"  que pssuo, resume-se  nesta minúscula, mas interessante, folha de papel , que conta um lindo pedaço da minha vida...Nessa época, 1969, eu estava prestes a me graduar como Pedagoga...."Interrompi" minha carreira de atriz, mas nunca deixei de desempenhar minha "porção" atriz, também, em sala de aula, ao ministrá-las...

Para finalizar a postagem, trago, para ilustrar, uma foto minha, da época em que interpretei o "SUPER BABY"...Reparem o meu cabelo, bem curtinho, para "convencer", melhor,  às crianças da plateia, de que eu era, realmente, um  menino... 
Agora, vem a velha pergunta: "É a VIDA que imita o TEATRO ou é o  TEATRO que imita a VIDA ?
 
Lúcia Paiva, "decorando" as "falas"de seu personagem
Super Baby, do texto da peça infantil "Crak Bang Flash",
de Carlos Paiva (seu irmão), encenada em1969...
(FOTO: AUTO RETRATO )....ACREDITEM!!!


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Já vou indo............................mas eu volto!  Um abraço!