sexta-feira, 25 de março de 2011

RETALHOS DE "HÓSTIAS" : do Jordão, para o "céu"...

A palavra órfã/órfão, sempre me causou uma certa aflição, principalmente quando se refere à menina. Minha mãe dizia
que ficara órfã com um ano e meio de idade. Meu pai ficou órfão
aos dez anos. Por ser eu do sexo feminino era, a orfandade de
minha mãe, a que me causava mais  dó. O que me dava um certo consolo, era saber, que no caso deles, foram os pais e não as mães,
que os deixaram órfãos. Eram assim, meus sentimentos com relação à morte dos pais de crianças. Eu tinha muito medo de ficar sem minha mãe. Com relação a meu pai, nunca pensava na morte dele, quando eu era criança.

Assim, em pequena, eu não gostava nada de ouvir mamãe anunciando que iria passar uns dias no Sítio Jordão, em Baturité(Baturité, fica a 100 quilômetros de Fortaleza).
Sentia-se cansada,creio, cuidando de seis fílhos e, portanto, precisava de uns dias de "férias". Ia tranquila, suponho, por saber que ficaríamos bem, aos cuidados de nossa avó materna, que morava conosco. Uma semana, parecia uma eternidade....

O Sítio Jordão pertencia aos tios da mamãe. Suas primas, Maria Tereza e Ursulina Furtado Bezerra, profundamente católicas,

Cortador de hóstia. A massa, já prensada e seca, era colocada na
superfície, abaixo da peça de ferro.  Rodava-se a manivela e as
hóstias iam caindo na gaveta.


colaboravam com a paróquia. Dentre seus afazeres religiosos, produziam hóstias para a Igreja Matriz de Baturité.

Contava os dias, para o regresso de minha mãe. Além da alegria em tê-la de volta, sabia que ela traria,  dentro daquela linda lata de "biscoitos pilar", muitos retalhos das hóstias que as primas faziam no Sítio Jordão ( que ficava a quatro quilômetros da cidade de Baturité). Naquele tempo, final da década de 1940, eu ainda não fizera a 1ª Comunhão. Assim, eu poderia mastigar à vontade o que sobrava das hóstias: retalhos cheios de círculos vazados. Os círculos, ficavam no Jordão, para serem consagrados, segundo a Fé da Igreja Católica.

A lata, com os retalhos de hóstias, era a primeira coisa que mamãe me dava, depois de doce beijo e amoroso abraço.

Dentro de minutos, o presente, vindo do Jordão, estava totalmente colado no céu da minha boca....e eu, plenamente feliz!
Mamãe voltara!!!!!!



Muito em breve, estarei de volta...........um abraço!

sexta-feira, 18 de março de 2011

FORTALEZA : passado & presente


Quando se conhece bem a cidade onde se nasce, quando se ama, apaixonadamente, a cidade em que se nasce, mais dia menos dia, há que se decantá-la.
Comparo a minha cidade, à uma pessoa. Quando se tem registros fotográficos de uma pessoa, desde o nascimento até a velhice, pode-se observar as transformações pelas quais ela passou. Mas há
pessoas em que se percebe mais as transformações. Sobre essas, costuma-se dizer : "como mudou, nem parece a mesma!". Do contrário diz-se: "não mudou nada, continua a mesma !".

A Fortaleza de que me lembro, de quando eu criança, já era bem diferente daquela da infância dos meus pais, dos meus avós....
mas as mudanças, de uma geração à outra, não se davam tão drasticamente, tão agressivamente, como nas últimas décadas.


Lagoa do Tauape - Benfica - anos 1950


Hoje, quero decantar minha cidade, mostrando o meu lamento por muito  de bom que "furtaram" dela, ou de nós, que a amamos ......


                       FURTO  D'ALMA

Não sinto mais, a intensa brisa litorânea
Mudou tanto, a minha cidade
Cidade clara, com luz própria, feito o Sol
"Cidade que furta e lesa a alma da gente", no dizer do amado pai

Cadê, a Lagoa do Tauape?
Cadê, o "puxa-puxa" da Tereza?
Cadê, o "cruzeta" na hora?
Cadê a "chegadinha" musical, regada simplesmente a triângulo?

Aterraram a lagoa, sem dó, sem piedade
A Tereza, partiu para o infinito
O pregão do "cruzeta", foi-se embora
Só restou a "chegadinha", rareado na calçada

Era um jogo de xadrez, quando menina
Cresceu, perdeu a cor, a formosura, o pudor
Intumesceu desordenada, horizontal/verticalmente
Salvem, a minha Fortaleza AMADA
É minha súplica constante
É minha prece de AMOR

                                             *******

Volto sempre..........um abraço!
       

domingo, 13 de março de 2011

BECO DAS BANANAS : Gustavo Barroso, Longino Paiva e outros....

Quando li pela primeira vez Coração de Menino, memórias de Gustavo Barroso, fiquei encantada com suas lembranças da infância. Agora, quando releio o livro, faço um paralelo com outros fatos da Fortaleza do final do século XIX,e relaciono-os à minha família. O encanto, permanece.
O sumário do livro, é disposto com os meses do ano. Em cada mês, há quatro crônicas, com exceção de fevereiro, em que há cinco crônicas.
É no mês de novembro, à página 219, que está A Batalha do Beco das Bananas. Nesta crônica, o "menino" Gustavo (Barroso) cita,
dentre os vários amigos, Longino Paiva, que era filho de Antônio Pereira de Brito Paiva, irmão de meu avô paterno.

Diz o narrador que sempre se reunia com os filhos do Barão de Studart na rua Formosa (hoje Barão do Rio Branco), para brincarem de manja, boca-de-forno e tal....Que convidava os filhos do Barão para tomarem parte de um "batalhão" que se
formara na Rua das Flores (hoje Castro e Silva). Mas eles não aceitavam porque o pai não consentia que eles se afastassem de casa e não os queria metidos com moleques.
Eu sou mais livre, diz o menino Gustavo, e sei que batalhão sem moleques não presta. Os meninos de família (sic)são naturalmente oficiais superiores, subalternos e inferiores, Se não houvesse moleque, onde recrutar os praças.....?

Rua Major Facundo. À direta, no quintal da casa nº 20,
à esquina da rua das Flores, ficava o Batalhão do Beco das Bananas.
A casa onde morou Longino Paiva,  corresponde hoje ao nº 120.

Longino Paiva era o comandante do batalhão que estava a organizar-se na rua das Flores(hoje Castro e Silva), tendo seu quartel no quintal da casa de seu pai, o velho Antônio de Brito Paiva, que fica à esquina da rua Major Facundo (antiga da Palma), com a rua das Flores e o portão do quintal abria sobre essa última.
Gustavo Barroso, na crônica O Batalhão do Beco das Bananas, nos diz que é sargento, no batalhão do Longino, que conta mais com dois tenentes e 14 praças. O comanante Longino, relata, é o único que usa uma espada de ferro, que seu irmão desembargador lhe deu.

Este irmão de Longino, vem a ser o Desembargador Joaquim Olympio de Paiva que também é irmão do Mal. Vicente Ozório de Paiva (os dois últimos, "batizam" , hoje, ruas de Fortaleza).

Longino Paiva, era filho do segundo casamento do velho Cel. Paiva. Ou seja, o desembargador e o marechal, irmãos de Longino, eram filhos de Antônio Pereira de Brito Paiva (Cel. Paiva) com Ana Joaquina da Conceição Paiva, que foi madrasta do Barão de Aratanha.
Deixo de lado o livro Coração de Menino, e pego os manuscritos de meu pai, José Joaquim de Oliveira Paiva, primo, portanto, de Longino Paiva, e leio:

"O Cel. Antônio Pereira de Brito Paiva, o tio Antônio Pereira, tão citado em casa, irmão pelo lado paterno da vovó Maria Isabel, via-o eu, nos meus 5-6 anos, e êle com 90, levado pelos meus à sua casa da esquina das Ruas da Palma e das Flôres, creio que agora (1971) Major Facundo, 120, tendo falecido a 22 de julho de 1901.Ia lá a vovó, quando pequenos meus tios, e êle dava, a cada um, um dobrão de cobre....."

Para  completar o paralelo, de que falei no início, largo agora os manuscritos de meu pai, e localizo, no Inventário de meu tio-avô Antônio Pereira de Brito Paiva, o que coube como herança ao filho caçula, Longino Paiva : contei 35 ítens, entre bens móveis e imóveis. Mesmo com essa boa herança, lamentei que Longino não
ficasse com a casa em cujo quintal montara o seu Batalhão do Beco das Bananas, decantado por seu amigo de infância Gustavo Barroso. A casa da Major Facundo nº 20, foi herdada pelo Des. Joaquim Olympio de Paiva e seu irmão, o então Cel. Vicente Ozório de Paiva.
Longino Paiva, contava 14 anos, quando faleceu o pai, em 1901.
Gustavo Barroso, tinha   13 anos, então .
Fico a me perguntar: como o comandante Longino passou a conduzir o batalhão do Beco das Bananas, depois da partida do velho Brito Paiva ?
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Eu volto.....um abraço!

segunda-feira, 7 de março de 2011

CONDESSA DE OURÉM : Ascendente Minha ? - II

Dos meus avós para trás, todos os meus ascendentes viveram na Monarquia. Muitos deles, ocuparam cargos e receberam comendas. Entanto, com a perspectiva de uma República,no Brasil, todos aderiram à ela, muitos lutaram por ela. É o que a História conta.

Sempre me interessei pelas minhas origens. Agora, tenho a oportunidade de contextualizar, os fatos que ouvia em família, com os fatos que encontro nos registros de livros e outras fontes.

Trago à tona uma galega que, já viúva, casa-se com um galego, malandro, e se torna a 2ª Condessa de Ourém. Isso no século XIV.
Era o reinado de D. Fernando I e D. Leonor, em Portugal.

O rei, já  doente, morre, em 1383. O  amante da rainha, João Fernandes Andeiro - 2º Conde de Ourém - sai um pouco de cena e vai visitar a esposa e filhos. Aguarda o chamado da rainha para assistir ao funeral.

Morte do Conde Andeiro

Terminadas as cerimônias das exéquias, paira no ar um clima de "complô" para matar o Andeiro. O Mestre de Avis, D. João, irmão bastardo do rei recém falecido, quer ser o novo rei. O Conde, que atrapalha seus planos, leva então a primeira estocada do futuro rei...sendo concluida, a trágica morte anunciada do galego Andeiro, pelos seus vassalos.

Assim termina o condado de Dona Mayor Fernandes, a 2ª Condessa de Ourém, em Portugal.
Não quero imaginar o sofrimento dessa pobre galega que trocou uma viuvez honrada  na Galícia, casada que fora com um homem também honrado, Fernão Bezerra, meu provável ascendente mais antigo de que tenho informação, por regalias da nobresa lusitana.



Garanto, que volto.......um abraço!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Famílias Albano e Paiva: UNIDAS MISTICAMENTE -II

Em 1971, quando meu pai  fez seus "apontamentos" referentes ao conjunto das sete imagens, que pertencera à Família Albano, êle afirma, alí nos escritos, que estivera há pouco tempo com o Dr. Manoel Abano Amora, e  que o mesmo confirmara a "viagem" do santuário da Família Albano para a Família Paiva.


São José de Botas


Quando menina, morando na Rua Barão de Aratanha (nome que homenageia o avô do Dr. Manoel Albano Amora), o santuário da casa ainda abrigava, juntas, as sete imagens de origem portuguesa, que pertecera à Família Albano, quase um século antes:
São João Batista, Sant'Ana, Menino Deus , N.S. da Conceição, Sto. Antônio de Lisboa, São Francisco, São José de Botas.

Com o tempo a transcorrer, algumas foram se deteriorando.
Após o falecimento de meu pai seus filhos decidiram "repartir"
as imagens. Éramos seis......alguém ficaria com duas imagens.

Procedemos, então, a dois sorteios. No primeiro sorteio, ganhei o São João Batista Menino. A imagem que restou, do primeiro sorteio, foi a de São José de Botas. A sorte, estava comigo!
São elas, portanto, que ilustram as duas postagens relativas à união das Famílias Albano e Paiva.


Volto logo......um abraço!

terça-feira, 1 de março de 2011

CONDESSA DE OURÉM : Ascendente minha? - I

Pesquisar sobre a genealogia da minha família, não quer dizer que eu pretenda "montar" minha árvore. Quero, isto sim, tecer as histórias à luz das recordações da famíla, juntando aos nomes e fatos registrados pelos genealogistas.

Meus primos, Francisco Lopes Paiva, de um lado, e Eduardo   Bezerra Neto , do outro, já "cuidam" do estudo genealógico formal, da linhagem propriamente dita. 

Tenho em mãos, hoje, um exemplar da Revista do Instituto do Ceará,Tomo CVII- Ano CVII - 1994. Entre as páginas 109 e 121, há o artigo Fonte sobre as Origens da Família Bezerra em Pernambuco, Portugal e Galícia, de autoria do primo Eduardo.

Encontramos, alí ,Fernão Bezerra, casado com Dona Mayor, na Galícia. No texto, ambos são pessoas honradas. Adiante, vamos  encontrar Dona Mayor, já viúva de Fernão Bezerra e casada com João Fernandes Andeiro, ainda na Galícia. Andeiro, não era uma pessoa honrada, como sua mulher e seu primeiro marido, Fernão Bezerra. Basta consultar a biografia do Galego Andeiro, para se certificar. Hoje,é mais fácil, no veículo internet.

Espécie de planta, no teto  - Sintra -Portugal
Cada número corresponde a um brasão de famíla

Alguns anos depois da leitura do artigo, comprei BRASÕES DA SALA DE SINTRA, uma obra em três volumes, numa livraria lusitana, que não mais existe, à Rua Maria Tomásia. Essa obra,
é de autoria de Anselmo Braamcamp Freire, historiador português.

No Vol. II, dessa obra, iniciando à página 286, encontra-se o capítulo OS AMORES DE D. LEONOR TELES. 

Era o ano de 1383, sendo reis de Portugal Dom FernandoI e  Dona Leonor. Entre os amores da rainha, estava JoãoFernandes Andeiro, homem de confiança do rei. Anunciava-se uma tragédia.
Andeiro, era Conde de Ourém. Dona Mayor (antes Bezerra, depois Fernandes) acompanhou o marido a Portugal, vindo da Galícia, tornando-se, então, Condessa de Ourém.....

Segundo o primo Eduardo, pelas suas pesquisas, Fernão Bezerra é o mais antigo ascendente da famíla Bezerra, até então encontrado.


Eu volto......com mais Condado de Ourém......um abraço!