quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O NORDESTE, QUARTA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XXIV)
O romancista e o maestro
J. Paiva
Foto de Alfredo Salgado, de 1888,  de um pique-nique realizado na
chácara de Galtter da Silva, no aprazível  Benfica..(Abaixo, croquis
com a numeração correspondente à cada componente da foto.
(Clique na foto, para ampliar) .(Fonte: Revista do Instituto do Ceará).
Acima, o croquis, feito por José LIBERAL DE CASTRO, ao publicar,
 na Revista do Ceará(1995),a matéria "Alberto Nepomuceno e o Ceará,"
 sobre a estada do músico  cearense em Fortaleza, após sua ida para o
 Rio de Janeiro, quando aconteceu o pique-nique retratado 
(Fonte: Revista do Instituto do Ceará- 1995).
Antônio CAIO da Silva PRADO(1853-1889), Presidente da 
Província do Ceará (1888-1889). Nasceu em São Paulo e
faleceu em Fortaleza. (Pintura de Pedro Américo.; Fonte: Wikipédia).
Nesta foto, da Sociedade Libertadora Cearense, estão alguns dos
que compõem a foto do pic-nic...como Antônio Bezerra, o 6º, em pé,
da esquerda para a direita. O último, em pé, é ALFREDO SALGADO, 
que fotografou o grupo do famoso pique-nique. Sentados,1º- Oliveira Paiva,
2º- João Lopes  e  4º- Antônio Martins . (Foto: Arquivo Nirez)

 
Estação ferroviária da antiga CANGATY, hoje CAIO PRADO. 
Foto do dia da sua inauguração: 1890. (autor desconhecido).
(Fonte: Estações Ferroviárias do Brasil).
A mesma estação ferroviária, do hoje município CAIO PRADO, 
distante 120 km de Fortaleza .(Site: Estações Ferroviárias do Brasil.)



...cotinuação...

A fotografia do pique-nique realizado em Fortaleza, no ano de 1888, na chácara de uns dos mais brilhantes comerciantes cearenses de todos os tempos, Alfredo Salgado, com a restrita representação de pessoas de valor social, mental e artístico de então, que foi publicada no Boletim nº 3 de 21 de fevereiro de 1941, do Instituto do Ceará, 1º Centenário de nascimento do notável historiador Antônio Bezerra de Menezes, apanhou para a História os seguintes vultos: Presidente Caio Prado e os literatos Antônio Bezerra, João Lopes,Antônio Martins, Oliveira Paiva e o músico Alberto Nepomuceno; os homens do comércio Gualter Silva, Confúcio Pamplona, Jaques Well, João Salgado, várias crianças, senhoras e senhorinhas. Alfredo Salgado, o fotógrafo, certamente por isso mesmo, não aparece no quadro.


Vale à pena destacar ali a figura de Antônio Caio da Silva Prado, homem rico, generoso e empreendedor, diletante, paulista de fina raça e fibra de estadista que o jogo de xadrez da política imperial mandara para o Ceará, e que aqui governou, providencialmente, um ano de seca - chamada de três oito - também aqui passando os últimos meses de sua existência, entre 21 de abril de  1888 a 25 de maio de 1889, morrendo em meio a uma doença misteriosa mas deixando um nome, uma fama e uma popularidade quase lenda, que muitos dos nossos presidentes conterrâneos não lograram conquistar.

Naquele cenário, a vida burguesa da capital do Ceará estava como que espiritualizada pelas notas individuais de Literatura e Arte, que tiveram assim sua mais duradora perpetuação pessoal. No fim do Império, quando o passado de lutas homéricas pelos mais fúlgidos ideais do século que para os latinos se iniciara no 89 francês, entre os quais a campanha, ainda quente de saudades que culminara com a libertação dos escravos, trouxera para a terra de Iracema o justo cognome de Terra da Luz, e José de Alencar, ainda em vida e muito mais após a sua morte, fora já considerado um astro de excepcional grandeza no céu da Literatura nacional, então quando a 13 de de maio a princesa Imperial firmara o decreto da Redenção final e total da raça negra aliada ao português e ao indígena, não deixara essa visão  íntima da sociedade de 1888 de parecer, ao mesmo tempo que uma cena quase familiar preparada e acariciada pelo alegre espírito do Mecenas Caio Prado, um protesto tácito contra a hibernação senil do triste fim do Segundo Império, de cuja recessão próxima forças ocultas tentavam afastar a Princesa Isabel. Quem sabe se os Afonso Celso, os Alfredo Taunay, os Eduardo e Caio Prado, os Paranhos Filho e tantos outros, à frente dos Gabinetes, num terceiro Império, não teriam forjado uma democracia de perfeição continuada, semelhante ao do Império Britânico, sob o cetro da Rainha Vitória, de quem a Filha de Pedro II seria uma imitadora com formação católica e latina? Afinal aquela quase tertúlia, de tão fina e variada composição, numa gloriosa Província que era esquecida da Côrte mas sempre honrara o Brasil, não parecia estar precedendo de tão pouco tempo ao advento de uma República cortada da profecia de Daniel, como se o velho solitário soberano admirado por Vitor Hugo, fora outro ímpio Baltazar, profanador do tempo da Liberdade, servida pelos dois partidos nacionais.
Por J. Paiva
...continua...

*******
Notas:

1- Mantivemos, desde o Capítulo I , a forma ortográfica com que o texto foi concebido e publicado em 1952, pelo jornalista J. Paiva, sobrinho do biografado e meu pai;

2- O "maestro" a que se refere o sub-título, " O maestro e o romancista", é o músico Alberto Nepomuceno, que se tornou maestro e que, morando no Rio de Janeiro, visitou Fortaleza
em 1888, em excursão artística, a fim de angariar recursos para
estudar na Europa, em companhia de seu amigo Frederico Nascimento. Ambos estão na "famosa" foto do pique-nique; 

2- A partir deste penúltimo capítulo, começa a brotar, em mim, a ideia do que trarei, como matéria, após o último capítulo. Penso em trazer um pouco da "Vida e Obra" de outo artista cearense que, como Manoel de Oliveira Paiva, nasceu na Fortaleza do século XIX. Deixo para revelar, o nome, no final do Capítulo XXV, ao colocar o ponto final da biografia aqui transcrita.



*******

Volto, em uma semana................Um abraço!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O NORDESTE, SÁBADO, 12 DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XXIII)
O assalto das idéias
J. Paiva
Não conseguindo foto, separada, de Rocha Lima, citado por J.Paiva,
no capítulo anterior e no que vai publicado abaixo, "salvei" este  quadro,
acima, no excelente blog  LR - Arte & Manhas, do escritor Astolfo Lima, 
na postagem  "Academia de Rocha Lima e Capistrano de Abreu".

Caríssimos leitores:

Em capítulos anteriores, J.Paiva, faz menção, por várias vezes, 
ao movimento Padaria Espiritual, do qual Manoel de Oliveira Paiva não chegou a fazer parte, devido à sua prematura morte, dois meses depois da "primeira fornada" do jornal "O Pão". Em novembro de 1892, os "padeiros" fizeram publicar um número especial com uma "polianteia", em homenagem ao escritor.
Da Padaria Espiritual, na primeira fase, fez parte o músico João de Paiva, irmão de Manoel. Desse movimento, também foi membro integrante, o historiador, escritor e poeta, Antônio Bezerra , que era irmão de meu avô materno. Manoel e João de Oliveira Paiva, eram irmãos de minha avó paterna. O "padeiro" João Paiva usava o nome (de guerra) Marco Agrata; o "padeiro" Antônio Bezerra, usava o nome (de guerra) André Carnaúba. Ambos, foram do primeiro grupo, ou seja, os 20 rapazes que fundaram o movimento cultural na última década do século XIX.
Vale dizer que eu possuo os 36 exemplares de O Pão, em edição   fac- simile,  produzido em 1982, pela Universidade Federal do Ceará, Academia Cearense de Letras e Prefeitura Municipal de Fortaleza.

Leia, a seguir, o capítulo de hoje da biografia de Manoel de Oliveira Paiva...(XXIII)..."O assalto das idéias"...(...continuação...)...
......................

Educado em Fortaleza num convívio doméstico piedoso e puro, que pelo menos nele incutira a reta vida moral, tendo demorado algum tempo em Pernambuco e no Rio, não se conformando sua consciência através do monismo do Monismo, com apegar-se ao crasso Materialismo, no entanto melhor se firmou em Augusto Comte, terminando sua curta vida para cujo fim prematuro psiquicamente contribuíra talvez a morte de uma tia que lhe serviu de mãe, e a quem idolatrava concentrado na Biblioteca Pública de Fortaleza, a qual dirigia e lhe fôra conforto para o espírito, resolvera  dedicar toda a existência ao estudo da vida de Jesus e da Revolução Francesa.

Parece-me que Manoel de Oliveira Paiva, lera a obra de Rocha Lima também obedecendo a alguma influência de Mestres da Escola Militar, salientando-se na parte literária as opiniões do recém-falecido crítico cearense na apreciação do gênero "Romance" que, com grande erudição, preferia ao Drama e à Poesia, pois, "de todas as formas literárias, o romance é única que pode vulgarizar o complexos de idéias adquiridas, discutir as relações múltiplas da vida social e analisar até seus últimos elementos e em seus desenvolvimentos, as paixões, os interesses, etc"-
Lendo-se o que Rocha Lima acerca do drama "A legenda de um pária", do dr. Figueiras Sobrinho e da trilogia de José de Alencar, e acompanhado-se a sua crítica uma certa auto-suficiência, como que tentando a criação de uma nova escola, Oliveira Paiva simbolizava duas providências atribuídas à sensação, que experimenta o matuto inculto, da sua própria pobreza e nulidade, uma com o nome de Deus e outra com o nome de Governo; afigura-se estar ele ensaiando o que através de Rocha Lima, discípulo de Tomás Pompeu Filho, aprendera no Positivismo, tendo terçado suas armas na "Fraternidade", órgão maçônico em que lhe fôra "garantia a mais ampla liberdade de idéias e movimentos, indo, ao lado de João Lopes e Pompeu Filho, alistar-se nessa cruzada em que os três cobriram-se de glórias".

Na "Escola Popular", ligada à Academia Francesa(1873) e ao "Gabinete Cearense de Leitura" (1875) ficou registrada a principal ação da época em 1892. Araripe comparou a saudade por Manoel de Oliveira à que lhe pungira o coração na morte de Rocha Lima, alma desse movimento de 1870; por isso mesmo que era de uma pureza de sentimentos qual de um monge.

Para Tristão de Ataíde, "Rocha Lima foi o Tobias Barreto cearense" o que confirma a contra-espiritualidade dos intelectuais cearenses no momento filosófico de 1870. Mas Tobias Barreto morreu convertido, afirma-nos o insigne Pe. Leonel Franca, o que alguém atribuíra à "sobrevivência atávica, fraqueza mórbida de um organismo em decomposição". Sobre o fim espiritual de Rocha Lima, não há notícia...É certo, porém, que sua elevada sentimentalidade o fizera muitas vezes dizer a Capistrano de Abreu, referindo-se à morte de uma irmã que não chegara a conhecer, que, "ter uma irmã era o que mais ambicionava sobre a terra". Alguém disse na "Gazeta de Notícias", do Rio, a 22 de junho de 1879, que ele tinha tido "uma heroicidade modesta, uma consciência imaculada"...só o que era nobre e puro merecia-lhe respeito". E ao fundar, em 1870, a "Fenix Estudantil", com João Lopes e Fausto Domingues três anos antes da "Academia Francesa", tão ferrenhamente gnóstica, colocara-a sob o patrocínio de São Luiz de Gonzaga, diz-nos Leonardo Mota em seu esplêndido ensaio "A Padaria Espiritual",

E aqui fechamos este parênteses, cujo assunto, além de contribuir para uma melhor compreensão da personalidade de Manoel de Oliveira Paiva, talvez enseje um estudo mais completo sobre esse período da vida mental cearense que se firmou o valor da Terra da Luz em todos os setores do gênio nacional.
Por J. Paiva.
...continua...


*******

NOTAS:

1- Em todos os capítulos da biografia de Manoel de Oliveira Paiva, aqui publicados, temos mantido a forma ortográfica original do texto publicado em 1952, de J. Paiva, no jornal O NORDESTE, de Fortaleza, capital do estado do Ceará;

2- Um pouco diferenciado das postagens anteriores, com uma "galeria" de fotos, relacionadas ao texto de cada capítulo, julgamos importante a apresentação do vídeo Padaria Espiritual, dada a grande importância do movimento cultural, para historiografia do Ceará...do Brasil;

3- O penúltimo e o último capítulos a serem publicados, têm como sub-título "O romancista e o maestro". Não perca!

*******
Voltarei, em uma semana........ Um abraço!
 


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O NORDESTE, SEXTA-FEIRA, 11 DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XXII)
O assalto das idéias
J. Paiva
:
Coroação de Dom Pedro II - Lhe impõe a coroa D. Romualdo de
Seixas. (Fonte: blog  Ministrare et  dare animan suam).
Dom ROMUALDO Antônio  de SEIXAS (1787, Cametá-PA - 1860,
Salvador-BA), Arcebispo da Bahia, citado por J. Paiva no texto biográfico de
 Manoel de Oliveira Paiva, ora publicado aqui em capítulos. (Imagem- Wikipédia).
Igreja de São João Batista, em Cametá-Pará, cidade natal de 
Dom Romualdo Seixas, que foi Arcebispo de Salvador-Bahia.
Área portuária de Cametá-Pará. (Esta imagem e a de cima, são
do site Cametá - Terra dos Notáveis).
Padre DIOGO Antônio FEIJÓ - Regente Feijó 
(1784,São Paulo- 1843, São Paulo), criador do
"projeto que abolia o celibato eclesiástico", como
diz J.Paiva , na ensaio biográfico de Oliveira Paiva.
(Foto: Wikipédia).
Teatro Municipal de São Paulo ...(Foto: site Folha de São Paulo).
Estação da Luz - São Paulo....(Foto: site Folha de São Paulo).
Foto atual da Estação da Luz, em São Pulo, que desde 2007 abriga 
o Museu da Língua Portuguesa .( Wikipédia)
JOAQUIM Aurélio Barreto NABUCO de Araújo (1849, RECIFE-
1910, Washington), foi político, diplomata, jurista e jornalista, formado
pela Faculdade de Direito do Recife, é também citado...(Fonte: Wikipédia).
Antiga Faculdade de Direto do Recife, que hoje pertence à
Universidade Federal de de Pernambuco. (Wikipédia)
Basílica e CONVENTO Nossa Senhora do Carmo do Recife.
(site:PERNAMBUCO. COM -Foto de Helder Tavares).
Parte superior do altar mor da Basílica de N. S. do
Carmo do Recife (Wikipédia).
Pesquisando este livro na internet, constatamos muitas referências
à obra do Cons. Dr. Liberato Barroso,  " A Instrução Pública no
Brasil", citada por J. Paiva no texto biográfico que ora publicamos
aqui, em capítulos...(Imagem; Mercado Livre)
Vista da Praça de São Pedro, vista da cúpula de Michelangelo-
Patrimônio Mundial- Unesco.  "A Questão Romana se encerrou 
com a criação do VATICANO, com o estabelecimento do Tratado 
de Latrão, durante o governo de BENITO MUSSOLINE"...
(Fonte: Wikipédia)
Alceu Amoroso Lima  (1893-1983), nasceu no Rio de
 Janeiro e faleceu em Petópolis, onde residia. Foi crítico
literário, professor, pensador, escritor e lider católico.
Como crítico e jornalista, usava o pseudônimo Tristão
de Ataide. É citado por J. Paiva... (Wikipédia)
MUSEU IMPERIAL , em Petrópolis, RJ, que já foi residência da
Família Imperial. (Wikipédia)
Dom Pedro II e a Princesa Isabel, nos jardins do palácio que hoje
abriga o Museu Imperial, em Petrópolis.(Foto: site Cultura e Conhecimento).
Farias Brito (1862, São Benedito-CE- 1917,
Rio de Janeiro), escritor e filósofo...(Citado por J.Paiva).
Casa onde nasceu o filósofo Farias Brito, em São Benedito.
Casa onde nasceu o filósofo Farias Brito, no município de 
São Benedito, a 315 km de Fortaleza, que foi restaurada e,
lamentavelmente, alterada...nos detalhes...
(Foto: site São Benedito-Prefeitura)
São Benedito, é um grande produtor de flores, no Brasil...(Wikipédia).
No município de São Benedito, no Ceará, há produção de
rosas, SEM ESPINHOS, para exportação e consumo interno,
.(Fonte: site Terra).
João CAPISTRANO DE ABREU (1853, MARANGUAPE- 1927, 
Rio de Janeiro), historiador e jurista. Citado no capítulo de hoje. (Wikipédia).
Praça CAPISTRANO DE ABREU, em Maranguape-Ceará, cidade
 serrana, distante 24 km de Fortaleza. Homenagem, prestada ao ilustre 
  filho, com  estátua e nome, d a praça....(Foto: Diário do Nordeste).
...MARANGUAPE...na Região Metropolitana de FORTALEZA...
...distante 25 km  da capital cearense...(foto: google)...





Mais adiante, Dom Romualdo Antônio de Seixas, Arcebispo da Bahia, defendeu na Câmara o caráter sacerdotal contra o projeto do padre Diogo Antônio Feijó que abolia o celibato eclesiástico. Tão insopitável , apesar de disfarçada, era a mania sectária de intromissão na seara da Igreja Católica, tutora nata da nacionalidade desde a descoberta que a Joaquim Nabuco de Araújo tornou-se um dever de honra justificar sua medida provisória de proibir que as Ordens Religiosas recebessem, até segundo aviso, Noviços, demonstrando com documentos, até mesmo a negação de um pedido em contrário do Visconde do Rio Branco em favor de uma jovem a ele recomendada, "que o espírito que o animava não era de hostilidade às instituições monásticas do país, mas verdadeiro e sincero espírito de reforma", pendente de sua Concordata, já anteriormente tratada com o Papa Pio IX, e que no entanto os seus sucessores no Ministério protelaram indefinidamente, só achado fácil a Missão Penêdo, quando da Questão Religiosa, afim de poder ser humilhado o Episcopado.

O nosso insigne conterrâneo Cons. Dr. José Liberato Barroso, na sua marcante apesar de antiga obra "A Instrução Pública no Brasil"(1867), aliás adotado o naquele tempo revolucionário e anti-católico lema de Cavour "A Igreja livre, no Estado livre", advogava a plena autonomia do Poder Espiritual, afirmando no seu Discurso de Abertura de uma das Cadeiras da Faculdade de Direito do Recife, a 16 de março de 1865, sua Fé Católica, desta forma concisa e bela, na unidade da Família, simbolizada na autonomia paterna; a unidade da Nação, simbolizada na autoridade do Chefe de Estado; a unidade da Igreja, da associação religiosa, simbolizada no Poder Supremo do Sucessor de São Pedro: são as três verdades eternas em que se baseiam as instituições humanas. Ignoramos, porém, como se externou posteriormente na Conferência sobre "O Espírito do Cristianismo", pronunciada, em 1873, na sede do Grande Oriente do Brasil, a qual vem citada em preciosa obra : "O Bispo de Olinda", publicada pelo dr. Antônio Manoel dos Reis, em 1878, entre mais quatro de outras notabilidades.

Mas as idéias marchavam, emparelhando a coação da liberdade moral da Igreja, a própria locomoção física de dois Bispos, com o combate da Ciência contra a Fé. O Positivismo e o Modernismo foram duas correntes agnósticas que medraram então no Brasil, como escrevia J. Pereira Sampaio (Bruno) em "O Basil Mental" (1865), acariciando a "preguiça cerebral" e o "impressionismo meridional da nova geração culta brasileira".

Ainda outros "ismos" se seguiram, sendo hoje,todos eles, como um autêntico saco de gatos num diapasão babélico das mais díspares formas da afirmação e da negação...

No artigo "Modernismo Intencional", publicado em "Estudos" (4ª série), Tristão de Athaide, com o seu admirável poder de síntese, classificava em três os movimentos intelectuais do Ceará no último século, os quais ele discriminou assim, acentuando fases cíclicas decenais : "movimento filosófico" (1870), "movimento político" (1880) e "movimento literário" (1890) ; todos os três, no entanto, por ele considerados como "contra-espiritualistas", exceto a figura de Farias Brito, precursor do espiritualismo moderno e causa talvez inconsciente do movimento de renovação católica brasileira, entre os intelectuais, criado por Jackson de Figueiredo, com o nome de "Centro Dom Vital".

O primeiro depoimento da fase de "1870" foi escrito pelo insigne historiador cearense Capistrano de Abreu em setembro de 1878, como prefácio ao livro "Crítica e Literatura" de R.A. da Rocha Lima. Este jovem, falecido a 25 de julho anterior, aos 23 anos, fora uma vítima cedo imolada, pelo físico ao seu todo doentio, e, por sua poderosa mas insatisfeita mentalidade, às idéias novas que lhe estiolaram a Fé Católica em vez de robustecê-lo pela confrontação e contraste, entre si, dos sistemas que lhe eram oferecidos, enchendo seu esquema indeciso de vida mental desde a terrível visão referida pelo prefaciador Capistrano de Abreu, sobre seu próprio futuro, no retiro forçado de Jacarecanga, onde, doente, fora restabelecer-se, de volta de Recife, hospedado alí no Convento do Carmo, cuja Biblioteca frequentara. 
Por J. Paiva
...continua... 

()()()()()()

NOTAS:

1- Desde o primeiro capítulo, mantivemos a forma ortográfica do texto original de J. Paiva, escrito e publicado em 1952, no jornal O NORDESTE, de Fortaleza, e que ora publicamos neste espaço;

2- Temos antecipado, à digitação do texto, imagens seguidas de legendas, para que o leitor visualize  locais e pessoas que são referenciadas no texto biográfico, para uma melhor contextualização, no espaço e época;

3- O próximo capítulo, XXIII, ainda terá, como sub-título, "O assalto da idéias". Os dois últimos capítulos, o XXIVe o XXV , têm o sub-titulo " O romancista e o maestro". Continue acompanhando, o que muito agradeço...

()()()()()()()

Voltarei em uma semana......................Um abraço!!!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O NORDESTE,QUINTA-FEIRA, 10 DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XXI)
O assalto das idéias
J. Paiva
Augusto Comte (Isidore AUGUSTE Marie François
Xavier COMTE. (1798-1857), filósofo  francês, fundador
da Sociologia e do Positivismo. (Wikipédia)
"Brado de Alarme", cujo autor, Soares de Azevedo,
é citado no texto de J. Paiva que ora publicamos.
(Imagem: Mercado Livre).
Padre Gonçalo Inácio Albuquerque Mororó, um
dos heróis martirizados em praça pública, em Fortaleza,
em 1825. (Foto: google).
Manoel VIRIATO CORREIA Baima Lago Filho(1884, Maranhão-
1967, Rio de Janeiro), escritor, citado no texto biográfico publicado abaixo)
VIRIATO CORREIA, vestido com seu "FARDÃO" de membro da
Academia Brasileira de Letras(Foto: Wikipédia).
Imagem da capa de um dos livros da imensa bibliografia do escritor
 maranhense VIRIATO CORRÊA.(Imagem: Mercado Livre).
Obs.: O nome do autor, em livros, é grifado CORRÊA e não
CORREIA, como nas biografias e outros escritos.
A Praça dos Mártires, também conhecida como Passeio Público, é
a mais antiga praça de Fortaleza-Ceará. Além de uma bela vista,para
o mar, possui grandes árvores centenárias, como o "famoso baobá"....
...que aí é apresentado, em foto " menos" antiga, que a anterior...
O "famoso baobá", em em foto  a cores.... atual...
...bancos de madeira e ferro por toda a alameda central...em foto antiga...
...a mesma Praça dos Mártires, ou Passeio Público, em foto atual..à noite....
...foto antiga, registrada em sentido inverso, da foto abaixo...
Foto atual, do Passeio Público, ou Praça dos Mártires,  da alameda
da frente, tirada do poente para o nascente...
Portão principal de entrada, para a Praça dos Mártires, mais conhecido
por PASSEIO PÚBLICO, como se vê pela placa da prefeitura....
( Fotos: google e Arquivo Nirez) (Fonte: Wikipédia)
O Visconde de Cairu ( José da Silva Lisboa, 1756-1835),
economista, historiador, jurista, publicista, e político brasileiro,
ativo na época da Independência do Brasil(citado no texto
biográfico, publicado nesta postagem) .(Wikipédia).

Desenho mostrando membros da Assembléia Constituinte de 1823.
(Wikipédia)
 
NELSON de Sousa CARNEIRO (1910- 1996), político,
nascido em Salvador (Bahia), o mais importante líder divorcista
do Brasil conseguiu  a implantação da lei em 1977.. Desde 1951,
Carneiro levantava essa bandeira, só que havia uma enorme resistência
da sociedade, da Igreja e dos políticos que temiam desagradar aos 
seus eleitores..." (Fonte: site: Memorial da Fama).


  

Não pareça alheio ao nosso ensaio biográfico este capítulo. Reconstruir uma vida, principalmente se ela se processou com uma intelectualidade e um sentimento correspondente, importa em passar uma vista sôbre doutrinas e princípios. Houve quem fizesse a Manoel de Oliveira Paiva descer do Ceticismo ao Ateísmo e precisamos portanto, acompanhar a marcha das idéias que alteraram um pouco seu espírito.

Tem sido a doutrina católica o alvo principal do racionalismo. O Catolicismo é a única forma orgânica do Cristianismo, aliás a Religião singular que as três características perfeitas de estática e dinâmica, de Fé e Vida, tão bem definidas por Augusto Comte: Dogma, Moral e Culto. Antes porém da questão de princípios, tratemos da questão da liberdade da Igreja Católica, que no Brasil decidiu e decidirá da vida ou da morte da nacionalidade.

Soares de Azevedo, em "Brado de Alarme" (1922) e E. Vilhena de Moraes, em "O Patriotismo e o Clero no Brasil" (1925), narraram os fatos heróicos dos sacerdotes católicos, nos movimentos de auto-determinação do nosso Povo, salientando-se o Clero do Nordeste, particularmente no Ceará. A 30 de abril de 1825, na Praça dos Mártires, em Fortaleza, era executado o padre  Gonçalo Inácio de Albuquerque Mororó, com uma calma e firmeza de abnegado, objeto único de um espetáculo que absorveu nesse dia toda a atenção da pequena capital da Província, episódio que Viriato Correia descreve significativamente.

Ao processar-se a Independência, quando a Igreja levava a culpa das paixões da época, eram nossas mais legítimas e radicadas crenças imoladas frequentemente nas assembléias. Cayru, na Constituição de 1823 onde se assentavam 15 sacerdotes  da escola de Pombal, conformando-se com o vago e tendencioso deísmo de "Ente Supremo" e da "Sabedoria Divina", foi quem corajosamente propôs e votou de joelhos, o preâmbulo da Constituição "Em nome da Santíssima Trindade".  O padre Manoel Rodrigues da Costa, um dos heróis da Inconfidência discursando no próprio edifício da "Cadeia Velha", onde havia 14 anos estivera preso a ferros, antes do degredo de 10 anos num convento de Portugal, bradava aflito: "Demais sr. Presidente para quem legislamos nós? Para brasileiros, isto é, católicos romanos. De quem recebemos procuração? De brasileiros, isto é, católicos romanos. E para que? Para decretarmos que nós, que eles, que nossos filhos, nossa posteridade, temos direito a apostatar da verdadeira religião de nossos mártires? Não, sr Presidente, não. Tal poder não nos foi outorgado em nossas procurações, e nem podia ser". 
Em 1952, com a penúltima escala da atomização da Sociedade - o Divórcio -  devendo ser a última coletivação da propriedade, quase que ia sendo necessário que algum deputado apostrofasse desse modo a Câmara Federal.
Por J. Paiva.
...continua...


#######

NOTAS:
1- Em todos os capítulos do texto biográfico, aqui
publicado, temos mantido a forma ortográfica do autor, escrito em 1952;

2- Temos antecipado, ao texto de cada capítulo, várias imagens, no sentido de oferecer uma melhor e maior conhecimento sobre a época e  algumas personalidades citadas;

3- Neste capítulo, J. Paiva cita o DIVÓRCIO. Para quem conviveu com o biógrafo, sabe o quanto ele "abominava" a ideia de, um dia, a Câmara Federal aprovar  a lei proposta. Ironicamente, a referida lei teve a sua homologação sete dias depois de seu falecimento. Acredito que meu pai teve uma tristeza a menos, em sua vida, não assistindo à aprovação do Divórcio no Brasil;


4- Nos dois próximos capítulos, permanece o sub-título "O assalto das idéias". Espero você!

#######

Volto, na próxima semana... Um forte abraço!